3 poemas do livro Água dura
com uma lata de banha colhi na infância
o lambari
em segurança lhe deitei no aquário
ele escolheu o cerro de pedra depois
a embarcação
os outros gostavam de ouvir as suas
lembranças da sanga selvagem
o lambari
primeira lição de amizade
***
quando no confessionário se me obrigavam
confessava um ou dois pecados inventados
ao que recebia vinte trinta ave-marias mais
cinquenta padre-nossos e um salve-rainha
finda a liturgia
a língua livrando a hóstia do céu da boca
eu dizia qualquer coisa e ia brincar
***
eu criança quis achar no Atlas o país
onde deus não está
Juliana Meira nasceu em Carazinho/RS em 1981 e vive em Porto Alegre. Publicou poema pássaro (Patuá, 2015), na língua da manhã silêncio e sal (Modelo de Nuvem/Belas Letras, 2017), livro vencedor do prêmio Minuano de Literatura na categoria poesia 2018, água dura (Artes & Ecos, 2019), entre outros livros. Integra a coletânea Blasfêmeas: mulheres de palavra (Casa Verde, 2016) e a coletânea Treze mulheres e um verão (Feito no Ato/Psappha, 2018).
Adorei os poemas de Juliana Meira.