Romance No útero de Paulo, o embrião não nascerá, satiriza a própria formatação romanesca ao inverter papéis (portanto páginas) sociais e sexuais do masculino e feminino

 

 

 

Fernando Andrade

Jornalista e crítico de literatura

 

Imagine um revisor cheio de dedos para deixar suas digitais num texto alheio. Como síndrome de autor, ele deixa suas marcas ou pegadas não apenas na revisão ortográfica, mas se infiltra maliciosamente naquele texto que ele faria, de bom gosto. Passaria de um gramático de acertos e erros revisados, para um revisor de gêneros, um censor? Classificador? onde ele poderia também catalogar, criticar, rascunhar, já ficaria perigoso, rascunho é(procriar) pois mexeria com esta benfazeja autoria.

Quem gostaria de revisar, Orlando, o grande clássico, onde começa desde então esta polissêmica questão de gêneros, não propriamente, estilos literários. Alguém em sã consciência mexeria em Orlando? um revisor quase interfáçico, a palavra  é um neologismo meu. ( que só mexe com interfaces). Pois mexemos como bom proseador do sexo, mexer é algo favoravelmente sexual. Basta ver o grau de pilherias, piadas, sátiras, se faz nas relações de teor: comentários tanto do cunho pessoal e presencial, quanto informático-performático.

Pois é uma mexida aqui, outra mexida acolá, Leandro que não é revisor, embora contenha pitadas alquímicas de teor picante, de “um” em larga escala, aquele que mexe; lá vem ele de novo, com a nossa grande batalha dos dias de hoje que é saber onde colocamos nosso papéis sociais embutidos, nos de caráter sexual, e de performance identitária. O leitor pode pensar que performamos o tempo inteiro? Não somos o que somos? Sim, se não incluirmos a literatura com esta barafunda que mistura freneticamente os papéis ou arquétipos que os heróis, ou vilões, personificam entre vida e ficção.

Leandro Franz fez de sua narrativa chamada No útero de Paulo, o embrião não nascerá, pela editora Penalux, um romance que transgride e agride qualquer norma ou convenções de gêneros. Não criou primeiramente uma trama, certinha, tipo aquelas que possuem um esqueleto ou uma escaleta, tipo, Syd Field. Sua navegação é antes, a base da premissa fantástica, ou a veia na veia alegórica. Ao contrário do que pensam, os grandes estudiosos, é possível antes antever o caminho do enredo, sendo miraculoso, espiralado zonas do absurdo onde as sintaxes do textos se engendram simbioticamente sem a camisa de força de um roteiro pré-determinado.

O absurdo propõe personagens críveis à sua própria trajetória enquanto sintaxe que provém o devir (o caminhante) futuro da própria narrativa. E nesta ótica, o autor inverte os sinais da biologia humana. Fazendo do homem , o ser procriante, aquele que gera proles, o autor delineia posições de conflito e fragilidade em personas ou performances sexuais que se invertem. Leandro porém ao fazer das mulheres, seres que se fortalecem em posturas de força e latência sobre os homens, elas potencializam uma lógica perante uma capacidade de observação-ação do lugar de fala do outro. Importante salientar que o autor não dicotomiza um discurso de ódio ou sexismo entre gêneros, ambos com posições trocadas devem ou não assimilar suas novas marcas sexuais?

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