Livro de poemas “O sul de lugar nenhum” fala da relação de autoria com as aspirações que nos-nós compomos ao reciclar notáveis baladas

 

 

Fernando Andrade

Jornalista e crítico literário

 

O escritor Kazuo Ishiguro nasceu no Japão, mas ao 6 anos de idade, foi morar na Inglaterra, e ficou no país durante sua vida toda. Ele está vivo e ainda produz e foi nobelizado recentemente. Escreve sob a ótica do autor que não está no seu ponto de origem. Não versa sobre temas japoneses. Nem tanto ingleses. Tem um livro chamado nocturnos onde fala especialmente sobre a arte da música especialmente o jazz, o que não deixa de ser uma arte breve de ouvir. A relação de um escritor com a música deve ser próxima de um escritor com seu país aqui não cabendo onde nasceu. Mas um lugar distante como um som retinindo ao longe, reconhecível, mas não ainda traduzível; relações entre línguas, coisas que fazemos na nossa vida percorrida afora, e uma forma de intimidade com as melodias, que assumimos perante os outros, como algo que pontua nossa existência. Kazuo tem disso, fala de emoções balizadas pela altissonante música, algo que pulsa na entranha do corpo não só de metáforas vive o coração.

Esta relação dialógica com a música como forma de estar no mundo, compartilhado e compartilhando, vi no primeiro livro do poeta Marcelo Frota, chamado não à toa, O sul de lugar nenhum, pela editora Penalux. Não há fronteiras para a escrita proseada no ato do deleite de ouvir suas canções seus trovadores, eles tomam conta do espírito da gente. Por isso do sul não há mais referências, diluídas pelo verso e fumo de um boa aspiração ao parnaso onde musas e arquétipos gravitam do planeta composição. O velho e bom Jim Jarmusch fazia não filmes mas homenagens à artistas que vieram antes, fotogramas pb ( preto e branco) de um mundo da arte referencializado por citações, piadas, contextos. Marcelo bebe na mesma taça, seus poemas potencializam universos lúdicos, com o bom gosto da criação-criatura.
Exímio em lapidar frases sínteses sobre a ovídio arte de amar, seus versos não são tão rítmicos, a ponto de fechar o poema num estilo nucleado. Ele deixa solto a função rítmica com a prosa mais que elegante de um Hemingway deflorador de palavras e sons.

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