FERNANDO ANDRADE
jornalista e crítico literário
Palavra não é docência. Palavra também não é ciência. Não tem suficiência. Vaza por entre os dedos (a)o sentido. A palavra poética – diria alguém tomado pelo teor filosófico – é deslizamento. Palavra vai, palavras vão no vão tanto da conversa dos amantes como no verso dos não diletantes. Poesia já diria alguém safo é vazio na pedra.
No cerne do buraco das coisas vemos a relação entre sentido e significante com os deslizes do espaço desdito ou não dito, entre linhas e lados do verso. O som no poema pode ser tanto uma aliteração cantante como um silêncio melódico pois o poeta, o bom poeta, matreiramente tem lábia de bom proseador, mesmo quando este não (em) toa narrativamente; exprime por melodia e síntese. Humberto Pio é destes poetas que brincam com a língua e suas sonoridades, este trabalho, Coágulo, Reformatório, de diversificar a língua dentro de uma malha poética.
Entre normas cultas, e o linguajar coloquial, Humberto tenciona a própria dinâmica do ato criativo. Não diria que poemas seus, seriam, quase meta-poemas, um preocupação excessiva com a forma do elaborar uma tensão entre palavra, léxico e estética dentro de uma poética.
Ele parece que usa um certo formalismo com a preocupação de um ourives que faz um objeto (material) para uso fonético e estético prazeroso. E se há referencialidade é porque sua obra aberta tem o cunho do dentro e do fora, a relação entre inclusão e oclusão. Mexer com as relações de entorno ainda mais com linguagem poética, sem cair no artificialismo, não é para qualquer um.
O poeta através destes deslizamentos onde o sentido ora se dilata ou comprime sob sua própria maleabilidade da forma, sai de um viés que seria acadêmico por si só, para musar (o uso das musas), uma relação mais próxima com a música, e suas variantes semiológicas. Ai entra o proseador. Este é sabiamente aquele que sabe narrativar uma relação entre estilos e prosódias onde as regras são conhecidas até certo ponto, com o que tem dentro de uma certa arte, suas qualificações enquanto uso significante para aquele que recebe – seu receptor.
Ai, ai, ai…