por Jean Narciso Bispo Moura
A Poesia exige um ato de viva percepção e prontidão do autor, ele deve coligir à sua voz em escrituradas inquietudes, se possível promulgar o encarnado registro em erupção que se irrompe de novidade a cada sobressalto da aturdida garganta, daquele que descobre em cada escrita um verão em cada verso ou palavra.
Leonardo Bachiega “Em ácaros que depositam flores” escreve com um olhar que desabotoa a roupa da palavra e desvenda outras sucessivamente. O poeta realiza um culto à imagística, os seus versos atravessam como feixe de luz a visão do leitor.
O seu novo livro de poemas traz versos que se apuram numa concha própria, e quando aproximamos o ouvido, paulatinamente desatam-se em cântico marinho.
Na poética de Bachiega os versos esculturam-se em uma lógica de aglutinação de adjacências e desvios, bifurcando-se numa bonita semântica autoral.
Na obra “Ácaros que depositam flores” há um sinal de pressurização que habita a língua e a consciência do poeta, pois a temperatura adequada dita a capacidade dos ácaros produzirem ou não flores.
Sem dúvida a condição temporal regra a produção. O autor com isso perpetra uma incandescente metáfora do ínfimo, do insignificante, da miudeza, num lusco-fusco o título vai e vem. O seu espírito retórico habita também o território da grandeza, e em outro momento, parece pairar indiferente sobre o busto de ambos.
Jean Narciso Bispo Moura – poeta e editor da Revista literatura & Fechadura
Be the first to comment