Romance “Aldeia dos mortos” estabelece lãs e laços entre o fato, a narração e o (a)feto/ por Fernando Andrade

ADRIANA LOMAR 778x1024 - Romance "Aldeia dos mortos" estabelece lãs e laços entre o fato, a narração e o (a)feto/ por Fernando Andrade

Fernando Andrade/ crítico literário

 

Um narrador é alguém que possui uma consciência do ato de relatar acontecimentos em série.
O gênero de contar uma história obedece às normas do sexo biológico, se masculino de um jeito, ora feminino de outro? Será que o curso da narrativa é tão distinto assim de acordo com a afetação do tipo de orientação que carrega? Um feto que o leitor fique na dúvida quanto à sua sexualidade fluida, teria alguma vantagem em contar a odisséia de uma família que mora num casarão na ladeira dos martírios? E se este feto ainda não nasceu, e vê que seu forro íntimo ( quarto) foro íntimo (eu) é um pequeno lugar aconchegante. E que mesmo ainda não existido, nutre um amor condicional (cordão umbilical) à sua mãe que no exato instante está aflitadérrima com o assassinato de seu irmão promotor.

Nunca estar fora e estar dentro, esta relação de contexto foi tão bem engendrada pela autora Adriana que baliza toda uma questão de espaço-pertencimento sob uma qualidade do paradoxo de ver quando se está encoberto…

Adriana Vieira Lomar estabelece em Aldeia dos mortos, editora Patuá,  romance,  o que chamo de relação de confiança com um ato (verossimilhante?), mas que na literatura esta quebra do contrato do factual sob o ponto de vista da relação realista, numa ficção, acontece( visão sui generis), pois um feto é uma vida em andamento. Mas não vamos entrar em questões religiosas, mas sim elogiosas. O feto toma sua lente de perto para o distante; a relação do quarto para o meio externo como da casa da vó Caco (Dorinha) com sua família cheia de mulheres e alguns homens que farão parte de uma certa contextualização política do enredo.

O feto aqui já principia as questões do núcleo familiar e suas relações de alteridades e dinâmicas entre irmãos que são dois, Bernardo e Arthur, e um clã matriarcal encabeçada pela vó Caco, que junta ou rejunta cacos de porcelana para moldá-los em uma peça única, novamente. As filhas dedilham percalços e hábitos de uma linearidade da história.  Tece com muita maestria esta ampliação do corpo espacial da narradora(o) que não pode ser vista como uma entidade visiva à olhos outros. Sua relação de afeto é mais densa ao entorno na medida que el(a)e toma para si, o objetivo de impedir um crime que é a morte de seu tio.

Com isso narrador(a) estabelece uma pesquisa investigativa sob quem é quem. Sob a hierarquia do gênero, dentro de uma família nuclear. Dentro de um espectro político temos até um certo teor de suspense onde homens escondem até meio noir o que as aparências camuflam ou enganam. A morte não tem gênero, mas brinca ao usar certas personas ou arquétipos de um bom folhetim, aqui me deito no tapete dos mitos narrativos da viagem dos heróis à alguma caverna de Platão onde a filosofia ainda era uma forma de ver narrativamente algum destino fi(o)broso.

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