TOM & DOLORES
Vai, Linda Mulher Amada,
Alça teu vôo,
Sobe,
Sobe,
Voa,
Vai ao Mundo,
Vai clarear outros olhos,
Vai inventar novos dias,
Vai refazer teus sonhos,
Vai, Minha Pássara Doida,
Vai ao Mundo,
Vai recompor tuas seivas,
Vai imantar teu Norte,
Vai navegar tua estrela,
Vai, Minha Alada Deusa,
Vai ao Mundo,
Vai destilar teus desejos,
Vai deslembrar teus amargos,
Vai bailar teu Tango Argentino,
Vai, Minha Fêmea Adorada,
Vai ao Mundo,
Vai sorver a seiva fresca dos ipês,
Vai jogar migalhas de pão aos peixes,
Vai ouvir a grama brotar sob teus pés,
Vai, Farol da Minha Alma,
Que o Mundo precisa te conhecer,
Que a Vida carece dos teus brilhos,
Que o Espaço implora teus contornos,
Que o Tempo solicita teus momentos,
Que a Luz requer as centelhas do teu brilho,
Que os deuses da Alegria fenecem sem teu Riso
E o Real e a Ficção não existem sem a tua essência.
Vai, Meu Lindo Amor,
Meu Gentil Amor,
Meu Inteiro Amor,
Vai ao Mundo,
Vai buscar teus caminhos,
Teus novos folguedos,
Teus novos prazeres,
Vai, Sol das Manhãs,
Vai ao Mundo
Que eu vou por aqui
Solando o Cântico Negro
Por mim adentro
E, num elogio a Pessoa,
Vou fingindo desamor
Que uma hora,
Uma hora qualquer,
Hoje, amanhã ou depois,
De tanto fingir e fingir
Deixarei de me amar
E não me amando
Não mais te amarei!
Vai, Minha Amiga,
Minha Estrela,
Vai ser feliz!
TEU NOME SIGNIFICA MEUS INSTANTES
Antes que o calor do sol arrebente os azuis nas vidraças da manhã
Já terei amado teu nome mil 712 vezes
Antes que os ruídos do meio-dia alterem as silhuetas da paisagem
Já terei falado teu nome mil 132 vezes
Antes que o estrondo dos revólveres acorde a natureza do silêncio
Já terei sonhado teu nome mil 471 vezes
Antes que o estardalhaço do mundo detenha a sinfonia das brisas
Já terei cantado teu nome mil 234 vezes
Antes que o açoite do tempo convoque na tarde os lamentos antigos
Já terei marcado teu nome mil 528 vezes
Antes que o terror da noite perpetue nos lençóis a lágrima dos aflitos
Já terei gravado teu nome mil 821 vezes
Antes que um deus de fancaria crie pecados em versículos de adeus
Já terei escrito teu nome mil 957 vezes
Antes que um pecado de séculos reprima o túrgido dos teus mamilos,
Já terei lembrado teu nome mil 372 vezes
Antes que a soma do teu nome
Congregue-se em fractais paralelas no infinito
Já terei composto meu hinário de aleluias ao teu sonho de estrela,
Já terei buscado teus desejos e tuas galáxias para o paraíso do meu universo
Onde meus acalantos remam, incansáveis, a barcarola de luz do teu corpo de mulher!
PERDEMOS A CONTA DAS VEZES
Ô, sim,
Trazíamos estampadas nos sonhos
As máscaras letais da juventude rude
E a cupidez desmedida das coragens,
Mas perdemos a conta das vezes
…
Ô, sim,
Gastávamos nuvens e nuvens de ideias
Peregrinando nos arrabaldes do tempo
E nas bordas do abismo das utopias,
Mas perdemos a conta das vezes
…
Ô, sim,
Éramos anomalias da mãe-natureza
Desastres públicos, vagabundos, párias
E, bruxos, adestrávamos lobos e vendavais,
Mas perdemos a conta das vezes
…
Ô, sim,
Preparávamos no alto-forno dos caminhos
Mil versos basilares de brilhantes verves
E lúbricas celebrações nos altares de Hedon,
Mas perdemos a conta das vezes
…
Ô, sim,
Treinávamos a simular com as bocas
Os lamentos dos cães da madrugada
E os uivos tristes do tesão dilacerado,
Mas perdemos a conta das vezes
…
Ô, sim,
Pedíamos à homilia dos ébrios
Pra fuder os fantasmas do ócio
E aos estilingues de doces ódios
Para fuzilar as gralhas do tédio,
Mas perdemos a conta das vezes
…
Ô, sim,
Remávamos a barcarola da história
Com as mãos lacrimejadas de medo
E olhos pressupondo “fleurys” na multidão,
Mas perdemos a conta das vezes
…
Ô, sim,
Bebíamos cachaça doce na cuia das mãos
E nas manhãs expelíamos a náusea biliar
Destilada no suor acre das noites desertas,
Mas perdemos a conta das vezes
…
Ô, sim, perdemos,
Todos nós perdemos o tudo que fomos:
Mortos, vivos, insanos, trêfegos,
Pedras, passarinhos, revolucionários,
Pacatos, raivosos, comunas, trôpegos,
Estopins de crepúsculos carbonários,
Homens, mulheres, ralé, desassossegos,
Sabemos apenas que chegamos aqui
Para cumprir um futuro de desapegos,
E se perdemos a conta das vezes
Que fomos bandidos, como mocinhos,
Ô, sim, que porra
Só sentimos no lombo, e muito,
A somatória canalha dos meses!
Wander Porto é de Patos de Minas onde vive suas idades desde 1950, trazendo na bagagem dois livros já esgotados, SOPRO DA MADRUGADA, de poemas e MUITO PRAZER, TODO MEU de contos ligeiros. No mais, além de um impermanência andarilha para lapidação de vivências com as ferramentas do conhecimento e voraz tradutor de desejos, é coadjuvante de canções e artesão de poemas.
Wander não faz poesia.
Wander é poesia que jorra poesia.
Esse menino preenche nossas almas carentes de coisas ditas no ouvido do universo.Engravida a vida de lindezas desconstruidas em castelos efêmeros de cartas açucaradas.Vida longa , meu poeta!