A vida como ela é, sem o final moralizante das novelas, trocado pela disparada de socos em nocaute | por Fernando Andrade

ALÊ MOTTA VELHOS - A vida como ela é, sem o final moralizante das novelas, trocado pela disparada de socos em nocaute | por Fernando Andrade

 

 

 

Fernando Andrade crítico de literatura e jornalista

 

A vida seria um tatame onde os pontos por socos desferidos pelo que os personagens desferem ou sofrem das agruras da vida. Mas a vida é ação e reação em medidas numéricas e equivalentes? Há como medir aquele ideia de ação que tomamos na juventude ou na vida adulta e só quando no fim da vida ela nos aponta o dedo como que dizendo – olha velho o que você fez há trinta anos atrás? A vida ensina, esta frase estúpida e idiota, parece contrariar todos os manuais de dramaturgia e narrativa. Ela ensina só depois de se passar pelo conflito, parte inalienável, de um modo operando de uma transformação de um evento envolvendo personagens. Com tratar, por exemplo, desta frase, eu diria moralista, nos contos da contista Alê Motta, onde a trama da autora sempre vence por nocaute.

O pugilista é a mão da contista, Motta, que ensina como desferir socos numa ação dramática calculada e perfeita para o tombo do efeito de relação entre ação e reação de seus personagens antimoralistas. Pois, Alê em seu novo livro Velhos, pela editora Reformatório, continua no ringue do pugilato das palavras, da troca de jabs entre efeitos psicológicos devastadores, e aquele sorriso maroto no canto dos lábios do seu leitor. A autora sempre escreveu como uma descarga de riso, este efeito de prazer que o censor do corpo e da mente previne que é errado, como a vida ensina a  nos controlar, claro que ninguém vai fazer na vida o que deve desembestar na arte.

Aquela sensação que os personagens idosos de Alê devem “ficar em casa” e agora nesta vida real eles devem ficar em casa. Mas neste espaço do conto ficcional onde parece que tem dois lutadores e a contenção das cordas operam na mente do homem-lutador-narrador para que a dinâmica violência entre experiência bio-gráfica e ficção seja a mais distante poossível.

Ela mostra a vida como ela é, mas sem aquela operações de tomar leite com manga porque faz mal para barriga. Dilapidar relações familiares é com ela, com seu humor ferino, e agudo, modulando toda carpintaria da narrativa breve, como o ofegar  da respiração lenta ou mais rápida, e sua intensa capacidade de em poucas palavras fazer aquele nocaute onde a palavra intensifica-se perante o final já pego de surpresa pelo seu desfecho.

Fonte: https://bit.ly/2REhqnqhttps://bit.ly/2REhqnq
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