ARMA BRANCA
Uma caneta
para dizer a liquidez do tempo
vazada na solidão da folha
assim consente o poema ao poeta
o sagrado do seu sacrifício.
NÃO FALHES O MEU CORAÇÃO
A luz da noite
permite o movimento do negro
um acidente que cumpre a sua promessa
à boca que é única veia por onde escorro
este sangue que procura
a força do sentido.
Os anos são este caminho onde abro as mãos
como o arado os campos à semente
fecho os dedos no nada do espaço
os olhos alcançam-te
quando as pálpebras
cerram o vulgar e permitem ao sonho
a sua coragem
para lá do medo
derrubado o medo
defendida a chuva
por onde viajamos
o que seremos
senão água em chamas
atingindo o chão
adormecendo.
A CASA
Atei os meus lábios ao teu destino
começam assim certas histórias a duas bocas
alguém mergulha as mãos na água
e constrói uma casa
sonha e estremece
ao longo dos profundos lugares
das paisagens marítimas.
Começam assim certas histórias a duas bocas
os lábios relembram, alimentam-se
apavoram-se no medo profundo do amor
e os corpos habitam-se de luzes várias
as horas passam e nada termina
o coração é dono do tempo
e dos compassos irracionais das línguas
que dizem palavras que não chegam
para alimentar a ave
que nos recebe na altitude certa
e nós unidos na emoção primordial
dos primeiros dias da criação do mundo
colocamos tijolos e madeiras várias
sangue, saliva e lágrimas
e construímos a casa a duas bocas.
O FOGO ABRE-SE AO MEIO
O fogo abre-se ao meio
num gotejar de espuma dourada
que queima o coração da noite
sei agora que todo o negro provém da luz.
VENATÓRIA
A dor caça o poeta
obriga-o ao poema
o poema é cão de caça
o poeta a presa.
DESPERTADOR
Flutua sempre
e não sejas constante
sê ilha
cresce e ergue-te na escuridão
abre os olhos como um farol
e distribui-te pelo tempo que resta.
EU ESCREVIA A CASA NA NOITE HABITADA PELO TEU NOME
Cruzo as mãos
fecho os olhos
procuro na fonte
a luz negra
do poema
língua em chamas
fala o fogo
boca que alimenta outra boca
com o sol
um sentimento arrebatador
na minha cabeça/coração
e penso no verde mar que foi a minha infância
recordo a textura das ondas e das árvores
onde sonhei pela primeira vez
para escapar à morte
e estou nas suas folhas líquidas e perenes
feitas do vento subtil
que soprava pelos ramos dos meus primeiros dias
escrevia poemas
relembrava que te iria encontrar nas palavras
e no amor que nunca ousei dizer
porque o amplexo do amor não cabe nas palavras
mas eu escrevia por dentro
como a aranha
que tece uma teia para os seus filhos
eu escrevia a casa na noite habitada pelo teu nome.
Carlos Ramos, nasceu em Peniche, Portugal. Licenciou-se em Direito, Escritor e Fotógrafo. Foi sócio fundador da VIRTUAL – Associação de Fotógrafos. Publicou os primeiros trabalhos nos jornais, DN Jovem e no JL – Jornal de Letras, está publicado também nas colectâneas “Nas Águas do Verso” e “Entre o Sono e o Sonho”, nas revistas “Palanque Marginal” – (Brasil), “Abismo Humano”, “Piolho”, “LiteraLivre” – (Brasil), “Proyecto Straversa” – (Colombia), “Oropeles y Guiñapos” – (Espanha), nas páginas “Poesia Portuguesa”, “Quem lê Sophia de Mello Breyner Andersen” e em “TheBooksmovie – Fonoteca de Poesia Contemporânea”, assim como em diversos blogues, entre outros “Gazeta de Poesia Inédita”, “Canal de Poesia” etc. Participou como programador no projecto Alcova Org. Foi autor e administrador dos blogues: “Infinito Atlântico” e “As Mãos Por
Dentro do Corpo”.
Obra Publicada:
O Mar Todo
As Mãos Por Dentro do Corpo
Visitação da Noite
Outros Amarão o teu Caminho
13 Naufrágios (+) 1. (ed.bilingue português/español)
Um destino Atravessa a Língua Para Chegar/Un destino atraviesa la
lengua para llhegar. (ed.bilingue português/español).
Contacto: carlosjoseoliveira@gmail.com
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