por Cefas Carvalho
Jornalista e escritor
Tendo ajustado, como já disse aqui, a leitura em tempos de quarentena, me enrolei agora com as resenhas, ou melhor, comentários pessoais e curtos sobre os livros que li, decisão que tomei no início deste ano e que mantive durante o isolamento, tanto para dividir com amigos e leitores o que leio como para me auto-estimular a refletir ainda mais sobre os livros que li. Colocando aos poucos então as resenhas, ops, apontamentos, em dia aqui neste Feicebuque.
Este “Logaritmosentido”, do amigo carioca Fernando Andrade, verdadeiro militante das letras, é uma espécie de montanha russa literária e estilística. A princípio é um livro de contos (como vemos na sinopse e na catalogação) mas o autor se permite brincar com todos os gêneros possíveis e chama o leitor para esta contradança.
Se nos dois primeiros terços do livro temos 11 contos de temas diferentes, mas, quase todos com referências filosóficas e/ou literárias, a partir dali temos ensaios, paródias (o ótimo texto “Trump e seu trumpete”, por exemplo), experimentação entre roteiro cinematográfico e teatro com textos quase contos sobre um casal, e por fim, poesia, ou prosa em versos, como quiser. O leitor que decida.
Leonardo Villa-Forte escreveu sobre o livro que “Pouco ou quase nada está em segurança neste novo livro de Fernando Andrade. Melhor assim. O que o leitor encontrará nas narrativas breves de Logaritmosentido é uma espécie de reinvenção do olhar para a cidade e para as relações entre os cidadãos, passando sempre pela fabulação e pela linguagem”.
Neste universo teremos contos com números que esperam alguém chamado zero para construírem um muro, uma criança que enche um balão e o deixa voar no espaço como ato político, suicidas que antes de se jogarem de uma marquise avisam que estudaram filosofia, pedras que sofrem de fadiga. Como se vê, um espírito filosófico e provocador permeia o livro. Meus preferidos são “Ana cria corvos” (olha aí agora referência cinematográfica) e “Impressões trânsfugas”.
Que venham mais jogos literários de Fernando Andrade. Evoé, amigo, que mantenhamos a chama da literatura acesa mesmo em tempos de pandemia e horrores.
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