Jean Narciso Bispo Moura| poeta e editor
Pensar a palavra expressa no corpo-poesia como uma articulação de sentidos comuns e incomuns, talvez seja um quebra-cabeça da escrita. Orquestrar sentido fora do trajeto calcado das estruturas simples do pensamento, tomado pela ciência de que poderá ser interceptado inesperadamente pela aparência do dito, quando a procura atravessa horizontes, apanha silêncios e distrações na mesma rede, sendo o governo prioritário da escrita associar sentido externo ao grafado.
Na trilha expedicionária da palavra, a vigilância deve servir para que o dito não tome valor de ourivesaria maior do que o comumente tabelado. A imersão neste caso é sempre tachada pelos inspirados como fadiga inútil, pois a palavra, para eles, alcança somente um fulgor corriqueiro e massivo, não é modelada para alçar um nível de espanto.
A economia de palavras, o poder de síntese, a capacidade de resistir ao termo aparentemente mais belo, mas tão indiferente que não toca com sua figura e sentido na sensibilidade, atravessada de leituras, do olhar alheio.
Em Alberto Bresciani a palavra sai do espectro comum, não paralisa em pontos de referências habituais. A sua força convoca símbolos de ordem não rotineira, demonstra exercer um trabalho laboral que não se regozija com o primeiro achado, buscando aparências ocultas e elevadas, traduzindo no campo tipográfico, achados iluminados. Confirmo isso ao ler o livro Fundamentos de ventilação e apneia, editora Patuá.
Imagem: Neurivan Sousa
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