Resenha | O livro de poemas “A cidade das portas” tem na sua temática uma poética que mescla tempo e metalinguagem | por Jean Narciso Bispo Moura

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Jean Narciso Bispo Mourapoeta, editor e crítico literário

 

A Cidade das portas [editora Folheando, 2020, 68 páginas] primeiro livro de poemas de Adônis Vox.
 
 O autor paraense tem na sua temática uma poética que mescla tempo e metalinguagem. Temas caros e sedutores para a boa parte dos poetas.
 
O título A cidade das portas habita o ar rarefeito da linguagem, evoca a passagens secretas, súbitos riscos e a possibilidade da incerteza.  O A cidade das portas amplia o conceito transcendente de um castelo ou mansão, em que dezenas de portas ganham a quantidade de milhares de dificuldades para o achado da porta certa em que ao abri-la o indivíduo encontrará um local onde reine a paz, a palavra, o belo e o absoluto. Ele parece se mostrar afeito ao desafio provocado, cinge a liberdade nos passos ao mover contra a clausura.   
 
O poeta adota uma linguagem de tomada rápida de pensamento, seus versos se alongam num tilintar, às vezes aceleram na autopista do pensamento, num ritmo diverso. Há neles uma circularidade aparente na escolha semelhante dos vocábulos  que reiteradamente são revisitados durante todo o livro.
 
Há também uma força latente no espírito criativo do autor que inflama e mostra imagens bonitas que laceram durante à combustão. Na página 15, poema “Numa manhã de domingo”:
 
O verso, neste tempo, é a única fronteira
Que mantém a gente entre dois lugares
É para onde me mudarei antes do tempo
 
Nas composições alguns poemas parecem gestar outras poéticas dentro de si, dando uma alma dupla ao objeto escriturado. As tomadas céleres de pensamentos modulam no texto gerando outras vozes dentro da mesma voz.
 
Entretanto apreciei também a epifania dos poemas, o uso de elementos de figura de linguagem que remetem a leitura da geografia física: rochas, canyons e outros elementos que se atam à espiritualidade.
 
A tomada e a predileção por lugares altos, onde é possível um pouco de descolamento do mundo sensível e material, para um ajuntamento com questões de ordem superior que se revela no esvaziamento da turbulência cotidiana.
 
O presente livro leva o leitor para um território, quase que inteiro, em que o autor dirige a sua relação etérea para o ato criação da poética, os seus mistérios casuísticos, desvendados em momentos de reflexão.
 
O poeta empurra com a força do seu talento a aerodinâmica do verso. O engenheiro em alguns instantes se mostra maior do que o objeto manifesto.

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This Article Has 4 Comments
  1. Douglas Reply

    Crítica muito boa. Parabéns, Jean. E parabéns ao Adonis Vox pelo livro.

  2. Monike Reply

    Realmente que crítica maravilhosa. Vou correr e adquirir meu livro agora mesmo!

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