1.
o que poderemos dizer
ou dizemos de facto
quando escrevemos:
disse adeus à tua sombra,
um cavalo ultrapassou o teu galope
e abriu o sol na minha direcção
o teu sol dourado
a tua força
o teu amor no interior destas palavras
inóspitas e sem poder
estas palavras que pertencem à história
da literatura
mas que amam e vibram como
um naufrágio.
2.
minha Mãe Iansã,
que um vento de feroz alegria
me suporte a palavra,
essa sílaba [ou esse Canto
que amorosamente
te ofereço
minha Mãe que levas no ventre
todos os Deuses,
nasce como se morresses
ou como se vivesses
num tempo muito pequeno
[ou muito grande,
grande infinitamente grande
maior que um corpo
parindo uma tempestade.
3.
até que nasça um de nós,
não deixes morrer esta palavra,
esta lenta conjugação sanguínea,
este amor tão antigo e
com tanto chão por entre a pele
até que nasça e morra um de nós,
só nos temos como vertigem,
ou como potência,
ou como arte de viver,
ou como alegria imensa de
fazer parte de
um poema sem futuro.
Jorge Vicente nasceu em 1974, em Lisboa, Portugal, e desde cedo se interessou por poesia. Com Mestrado em Ciências Documentais, tem poemas publicados em diversas antologias literárias e revistas, participando, igualmente, nas listas de discussão Encontro de Escritas, Amante das Leituras e CantOrfeu. Faz parte da direcção editorial da revista online Incomunidade.
O seu primeiro livro de poesia, Ascensão do Fogo, foi publicado em 2008, sendo seguido por Hierofania dos Dedos, editado sob a chancela da Temas Originais em 2009, e pelo livro Teoria do Movimento, editado em 2014 em edição de autor. noite que abre é o seu quarto livro de poemas.
Contacto: jorgevicente.seacarrier@gmail.com
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