Huggo Iora é natural de São José, SC, casado e pai de dois filhos. Na área da poesia, publicou dois livros: E sem demora… versos diversos num liquidificador (Ed. Insular, 2018) e Balada Desafinada e Outros Concertos (Ed. Autor, 2019). Contribuiu em revistas literárias como Mallarmargens, Ruído Manifesto, Jornal Relevo, Mirada Janela, Arara Revista, entre outras. Escreve nas lacunas entre a noite e o dia, reinventando assim cotidianos.
ABANDONO EM TOM MENOR
a noite bate
e são teus braços
que do meu corpo
se afastam horas
mas como viverei
eu, um ser de agoras,
se o agora
exige tua sólida presença?
desaprendi a indiferença
quando aceitei o cargo
de ser poeta de estrelas
pra lavrar as calçadas deste mundo
até que meus passos
adquiram som de caminhada
e não de fuga
só posso correr
se for ao infinito
do teu colo
da tua vulva
da tua espera
e ali diluir-me em álcool,
sedento por boca
que me sorva
e se embriague de
minhas maneiras
caso contrário
enraizo-me de galhos
e pernas
em terras que não me têm
por fruto
e ali apodreço,
esperando alguém que me tome
para fazer-me enfeite,
galho seco sem preço.
PRANTO
escorri-me até o ralo
aonde tua sujeira
toda ia,
não conseguia
decantar a mistura
entre paixão e loucura
presa dentro de um pote
de um jarro
de um corpo
muito torto.
então abri duas feridas
em meu bojo:
a primeira
de fome;
a outra
de versos,
e deixei-as sangrar
em cada pulso
que meu coração suspendia.
permaneci assim
até o escuro virar dia
e a aurora do teu colo
precipitar chuva
no jardim de minhas pálpebras
JARDIM TRANSGRESSOR
as rosas brancas
trespassam
os limites impostos
pelas grades do portão
exalando, do pequeno botão,
seus caprichos e liberdade
aos que na rua passam
rasgando
com a ponta dos espinhos,
numa irredutível candura,
a covarde capa
da censura.
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