Jozias Benedicto é escritor e artista visual, nasceu em São Luiz do Maranhão, tem especialização em Literatura, Arte e Pensamento Contemporâneo pela PUC-Rio.
Seu primeiro livro de contos, Estranhas criaturas noturnas, foi finalista do Concurso SESC de Literatura 2012/2013. Como não aprender a nadar conquistou o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais 2014 (Contos) e o Prêmio Moacyr Scliar UBE-RJ 2019.
Recebeu premiações da Fundação Cultural do Pará (2018) por Um livro quase vermelho e da Fundação Cultural do Maranhão (2018) por Aqui até o céu escreve ficção, a ser publicado em 2020 pela Patuá. Em 2019 lançou um livro de poesia, Erotiscências & embustes, pela Editora Urutau, que está editando seu A ópera náufraga, também de poesia, para lançamento em 2020.
O memorioso
Essas lembranças não eram simples;
Jorge Luis Borges, Funes, o memorioso, em Ficções
Eles vêm só à noite, quando eu sonho.
Deitam na cama, me abraçam, me beijam
na boca, gozam no meu peito, mijam
em mim — tanta coisa que me envergonho.
Alguns já morreram, outros sumiram,
nem lembro mais nome sexo endereço,
mas agora invadem meu sonho espesso.
Sua matéria: memórias, delírio.
Eu volto ao passado e nele cravo
âncoras para trazê-los pro meu leito
todos eles, de quem serei escravo
pra sempre; embora hoje monogâmico,
a minha memória, senhor, é feito
um depósito de lixo — atômico.
Em “Erotiscências & embustes”, Editora Urutau (2019)
Canção de um exílio
Minha terra tem palmeiras transgênicas
um sabiá & espelhos quebrados,
pessoas ingerindo barbitúricos
também tem torturas & torturados.
Minha terra, não permita Deus que
eu volte para sofrer perseguição
gays, mulheres, negros, o que se vê:
mortos, linchados sem apelação.
Minha terra, eu escrevo este soneto
tentando permanecer patriótico
à sombra das palmeiras & dejetos,
lixo, luxo & terror não como lá.
lixo, luxo & terror não como lá.
Minha terra, hoje afundando em pânico.
Morto, em uma gaiola, o sabiá.
01/10/2019
Aprender a nadar
Mergulhar. Expirar. Reter o fôlego, contar até dez, até cem. Subir à tona, expirar, inspirar, mergulhar. Bolhas, bolhas. Azulejos. Manchas de limo nos rejuntes. Soltar bolhas, contar até cem, até mil, até dez mil. Subir à tona, o pulmão queimando, o coração disparando. Solidão. Inspirar, mergulhar, a piscina é fria como a vida e como na vida se está só no meio da grade dos azulejos. Manchas. Bolhas, bolhas, bolhas, contar até um milhão como as estrelas como o universo frio como esta piscina como meu coração. Um trilhão, e eu um só. Subir como uma explosão, o ar o ar o ar. O pulmão disparando o coração queimando. O ar. Encher os pulmões mais uma vez, tentar acalmar o coração que. Mergulhar. Azulejos. Limo. Rejuntes. Grades. Bolhas, bolhas. Sangue.
Em “Como não aprender a nadar”
Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais 2014
Prêmio Moacyr Scliar UBE-RJ 2019
Gostei muito, ótima literatura. Vou ler mais, com certeza
Parabéns