5 poemas de Fabiano Silmes

Fabiano Silmes Literatura e Fechadura - 5 poemas de Fabiano Silmes

Fabiano Silmes nasceu em São Gonçalo, Rio de Janeiro. Publicou Comida para Bicho-cabeça em 2011, editora Multifoco. Entusiasta do underground e da literatura marginal, posta seus poemas em sua página no facebook e em blogs e revistas alternativas.

 

 

EU, ÁRVORE

Eu queria criar raízes no céu
e frutos na terra…

Queria que minhas folhas brincassem
sem o peso da culpa no vento da tarde.
Eu queria que meu tronco sustentasse
o ímpeto de quem sobe para ver além.

E que nenhuma mão estupida e covarde
arranque essas flores que brotam
diretamente dos meus sonhos…

– É o que desejo –

Mas se tudo se perder, de repente,
que fiquem aqui, vivas, as sementes
de minha esperança ainda em flor.

 

 

TRANSPIRAÇÃO

Trabalho arduamente o poema;
O suor escorre entre os dedos
E cai espesso sobre as palavras.
As horas passam na dureza da lida.
Quando a obra eu concluo exausto
Apresento ao meu pensamento.
(Severo juiz de minhas criações)

Então, como que saudando o novo,
Deslizo os meus dedos sobre a lira
E todo o esforço antes pressentido,
Matéria prima, cristaliza-se em versos.

 

 

KAMIKAZE

sei que algo me falta
algo que me incendeia
algo que não sei dizer

alguma coisa em mim
é um desejo inusitado
que persiste até doer

sinto um peso alma
que é quase um gesto…
um gesto de desespero
feito da mais fria calma

de um kamikaze que
sabe que vai morrer.

 

 

LIMBO

Corações ocupados pelo vazio
Espantam pássaros noturnos
Enquanto o vento embala
As flores amanhecidas.

Deito fora tudo que não é dentro
E uma substância líquida
Vem colar em meus olhos
Uma tristeza azul sem céu.

Ouço as batidas surdas
Dentro do meu peito
E cancelo a ressurreição
Dos astros em minha face.

Corre as horas incertas
E em algum lugar amanhece
Em algum lugar a vida segue…

Enquanto aqui do lado de fora
(Do corpo da mente da alma)
Os dias se repetem
Todos iguais só que diferentes.

 

 

CONCERTO AO AR LIVRE

zunem as abelhas nos motores
gases gases gases nos pulmões
a tosse seca dentro dos edifícios
mal disfarçada pela mão que abafa
súbito anjo que estrangula o grito

uma multidão de passos solitários
seguem desordenadamente em marcha
cada um leva um mundo de ideias
não repartidas por medo ou egoísmo
que se perderão e serão esquecidas

na rua, o corpo a corpo nas calçadas
marca os limites dos espaços habitados
com a tensão de guerra a todo instante
ninguém ouve a música que se forma
da beleza oculta na fenda dos muros

entre as coisas desutilizadas no chão
ninguém repara na orquestra silenciosa
que incendeia com delicada harmonia
o perceptível caos diário que nos cerca

na correria antropofágica da cidade
escravos das horas, ninguém percebe
a música da vida que soa das pétalas
das flores que nascem entre as frestas.

 

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This Article Has 1 Comment
  1. Fernando Maia Reply

    Maravilhoso e arrebatador .. toda a poesia de Fabiano Silmes é coração órfão de corpo. É uma independência como dois braços e unidas como um abraço .. parabéns, poeta maior.

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