E O QUE NOS RESTA? A SOBREVIVÊNCIA DO CORPO E DA ALMA | por Marcelo Frota

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por Marcelo Frota | escritor e poeta

Diego Ruas lança pela editora Penalux (2020) sua obra intitulada A fome é a mãe de todas as bombas. Ler essa obra foi transformador, pois o autor consegue por meio de palavras diretas trazer a realidade de uma nação, de um povo, de nós e de si mesmo, vivendo em um mundo que não é igual para todos, em um mundo que favorece uns e esquece de muitos.

A fome é a mãe de todas as bombas é um daqueles livros que é ao mesmo tempo simples e impactante. Contudo, a simplicidade é apenas aparente. Essa simplicidade é reforçada em uma estrutura convencional, por meio de uma linguagem coloquial, de ordem direta e por meio de cada poema, a história de várias pessoas, de nós, permeada de acontecimentos corriqueiros, para alguns banais, para outros repletos de sofrimentos é colocada em pauta.

O impacto para quem lê A fome é a mãe de todas as bombas é brutal, suas reflexões mostram sua sobrevivência, sua dor, seus sonhos, seus ideais, seu pesar. E quais são as armas que o autor usa para expor tudo isso? É sua inteligência, nossa inteligência, a perseverança de uma nação, por meio de papéis velhos e novos, por meio de um lápis na mão.

É nos versos do poema ‘Como ser neutro’ que temos uma noção do impacto que estamos sofrendo cotidianamente “Como ser neutro, se a realidade / é uma lâmina que atravessa meu peito / e recorta meu país em classes?”. Outro poema que marca muito a escrita de Diego Ruas é ‘Meritocracia’ que com simples, mas significantes palavras nos diz “— Independência ou morte! / disse o filho do rei.”.

Além disso, os poemas trazem temas que infelizmente, ainda são tabus em nossa sociedade, como, por exemplo, o racismo. O poema ‘1888’, nos fala sobre o preconceito, sobre a desigualdade, sobre as injustiças, sobre a escravidão, entre muitas outras coisas que ainda vemos sendo consideradas, por algumas pessoas, algo normal, diante de nossa desigualdade de classes e de gêneros.

Quando leio “Corpos entregues livres / à cultura do racismo / sem terras / sem tetos / sem bens / sem um puto no bolso. / Livres de ter, mas não de ser / negras e negros.”, e quando leio “A escravidão moderna, / dita seus novos marcos: / salários de fome / e miséria”, ainda vejo, nesse nosso povo miscigenado, ao qual pertencemos, uma lágrima cair.

Deixo para você caro leitor, uma mensagem do autor, por meio do poema ‘Xeque-Mate’:

O jogo só acaba
quando o último rei
for parar no xadrez

ou na guilhotina.

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This Article Has 1 Comment
  1. Roberto Monteiro Reply

    Muito bem!!! alvíssaras… gosto muito de poesia engajada, que nos diga a que veio… parabéns… poesia não é só firula, viagem ao fundo do ego… abrir as veias desta nação marcada pela injustiça é o mínimo que se espera de quem quer, pelo menos, tentar mudar este mundo desgraçado em que vivemos…

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