por Fernando Andrade | jornalista e crítico de literatura
O autor quando dá entrevista ele fala dele ou do seu livro? É possível separar sua veia biográfica do que é seu sangue ficcional onde expõe linfa, tecidos e os ossos do ofício. Quando crio uma mentira sobre meu entorno, falsifico a mim, e também minha vida, minha ficção. Um autor que fale mais que escreva, nesta aldeia de redes de pesca virtual está sendo um impostor com a sua escrita?
Se a literatura sublima as coisas, por que seu autor define o mundo à sua volta quando dá entrevistas, ou catalogas pessoas, define coisas. Lembro da classe quando o mestre apagava a disciplina da lousa ou do quadro negro. Ali todo ensino virava pó de giz ( diz….) Por que estou falando nisso? Claro, leio Fronteira eterna o livro de Dantas Guerra, um ser ficcional já pelo nome.
Noll dizia em seus romances, “meu nome não, sou carne tatuada” de outras ficções. ( grifo meu). Dantas não dará entrevistas, pois estará em alguma prateleira de alguma biblioteca esperando algum leitor para iniciar a prática mágica da leitura. Mesmo que alguns contos sejam tão materiais como uma conversa e jogo de carteado entre “amigos”, há ali algum tipo de silêncio minando o tecido provocativo do real, como um pergaminho que quando manchado de sangue revele ( em outro conto) uma outra leitura sutil e encoberta pela opacidade do mundo literal – na sabedoria dos mortos.
Amigo não peça para revelar o nome do títere, do ventríloquo que mexe os fios soltos da invenção. Embarque nesta ficção ou nesta nau portuguesa, leve na mão, um papiro ou suspiro por tantas letras e canções ou versos que pingam com sangue nesta trova ou trovoada pelos rincões portugueses.
Aceite o seu duplo numa antípoda tão distante quanto marte da terra. O duplo já fez pela literatura muito mais que mil depoimentos sobre fatos \ versões. Pois aqui estamos lidando com fronteiras não geográficas, e sim de memórias, ou mais exato, literárias, aquelas póstumas homenagens à filmes do coração com algum bom Scola, das velhas leituras numa biblioteca perdida da sua infância, ou uma menina dando livros para uma curiosa biblioteca.
O espaço neste livro tão fantástico revela toda a segunda mão ou casa sobre qual entorno há numa fundação, ou de sua mais tenra raiz. Em cada conto onde se usa a vida com farsa ou mo(r)te, há uma subliminar vela ou chama que ilumina os desvãos das palavras que tecem sentidos ou o camuflam em poética.
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