Fernando Andrade | jornalista e crítico de literatura
Pode-se dizer que todo autor tem em seu imaginário, um balãozinho como se fosse um quadro-quadrinho, onde há seu repertório de autorias. E que cada leitor tem sua chave que se adapta aquela fechadura autoral onde há filiação-sintonia entre o leitor e seus autores. Para cada livro à mesa reunimos gostos literários, que nos fazem muito mais que simples leitores, nos formam um pouco como autores. E como dizer que espaços ou lugares também são zonas da criação, pois fornecem emblemas, razões, por que certa lembrança-narração parte de uma certa localização-sensorial.
A memória é um gatilho de pistas deixadas pelo escritor-investigador. Não procura uma solução para seu leitor, mas uma réstia de confusão-conflito; agonia que o leitor em seu sonho-leitura se verá totalmente imerso dentro da narrativa-catarse. Lembro quando li Réquiem, uma alucinação de Antonio Tabucchi, me vi procurando pistas de um leitor-narrador à procura de Fernando Pessoa numa Lisboa escaldante de sol à pleno vapor. Estava grudado ao narrador nesta procura por pistas.
No livro, de contos, Era o vento de Carlos Machado, temos imer(n)sos imaginários a lanhar a tessitura do leitor, em seu périplo pela leitura. As novelas televisivas, como num primeiro conto, a espessa camada da fábrica da narração entre o sono e a vigília, lugares que parecem zonas entre o sonho e a localização do eu lírico falante. A cidade nos faz sombra ou nos faz terra?
Carlos faz uma ficção de pontes e fronteiras não só com espaços abertos como uma viagem a um vulcão nas geografias de uma veia América latina, mas, aprofunda toda uma região-localização para uma questão morfológica literária tanto existencial quanto até metaliterária.
Como seu Almeida que está ali como mero “guardador” de quadros, mas pela potência do exposto, da figura-linguagem-figurativa se vê enredado pela exposição… Ou como uma figura de linguagem poética com o a pedra no conto em nome do pai, amém, pode volatizar em polissemias, numa viralização de sentidos onde? quando? no meio do caminho tinha uma pedra… Carlos faz uma ficção não só de relatos, mas também, de viagens por dentro da própria literatura enquanto memória e trajetória da ficção em nós mesmos.
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