Fernando Andrade | jornalista e crítico de literatura
A primeira margem do amor é o mar. Por que o mar tem ritmo, mas não tem ponto. Tão aberto em suas linhas, o mar talvez seja virgulado. Você já viu um mar com parágrafo? Ele é inteiro e revolto em suas margens. Pratica o sombreado das palavras salgadas que pescam ou tentam pescar sentidos na sua fundura. O menino da epígrafe descobre a sexualidade olhando o mar.
Ele percebe outro sexo, muito além do seu, pelo erotismo das ondas.
Antes do sexo com sua outra alteridade, a menina que vai de carro com o pai percebe que o olhar ao mar, revela que dois seres podem sintonizar o mesmo lugar tanto de abandono de seus corpos em portos, como de mover o caos no amor, quando absorvido pelo envoltório marinho.
Olhar a cidade embebida em rum de adoecer, em não navegar em companhias, em não trocar as mãos no evento poético do dia madrigal. Desta balada da menina ao mar ou no seu caminho em escutá-lo, vem muitos sons e pipas meditando a noção do dia, a troca do cobertor pelo carinho do aconchego ao outro. Fernanda em seu novo livro de poemas, Só o mar silencia meus caos, Editora Penalux, traz uma moção de vento daquelas que passam de brisa à navegação sem bússola em tempos tempestuosos. Pousada como uma ave marinha entre uma narratividade poética, sobre como uma narradora tece o amor, em tempos da crueza da intimidade do contato.
Seus poemas buscam os arquétipos das janelas, para o entorno, onde canção e conto se entremeiam numa fronteira entre gêneros muito climatizada pelas relações entre eu lirico e a paisagem terrestre \ marinha. A memória exerce uma função quase órfica, deidades das águas se misturam em tempos narrativos, as formas do masculino no feminino, podem engendrar um nova mitologia do espaço poético entre raízes terrestres e marinhas.
Be the first to comment