Fernando Andrade entrevista a escritora Beatriz leal Craveiro

ELEFANTES BARREM EDITORA PENALUX - Fernando Andrade entrevista a escritora Beatriz leal Craveiro

Foto meramente ilustrativa

 

FERNANDO ANDRADE – Seu romance se dá muito pela sugestão da criação entre linguagem e narrativa. Elas andam tão juntas tanto no universo dos personagens quanto na ação em si. A ludicidade das palavras por serem tão maleáveis facilita o universo fabular do livro?

BEATRIZ CRAVEIRO – Não houve uma intenção de se criar um universo fabular, mas se a linguagem utilizada permitiu isso, que ótimo!

 

FERNANDO ANDRADESiso,  tomar, consciência, juízo. Esta ambiguidade há muito no seu livro, com relação até uma  forma de encruzilhada da palavras elas podem ir em direções contrárias ou não. Tirar o siso, aquilo que na fase adulta não precisamos mais… Fale um pouco dessas ambivalências. E sua relação com as pálpebras.

BEATRIZ CRAVEIRO – Orlando passa anos temendo que, se perder o dente do juízo, perderá o controle sobre os movimentos de seu rosto. Evitar o procedimento odontológico é a forma como Orlando tenta controlar seu destino. Quando aprende que não tem como controlar a dor e se entrega a ela, vai ao dentista e se vê frente a frente com a consequência de sua decisão. Em vez de enfrentá-la, foge. A fuga não deixa de ser uma forma de controle da própria imagem.

 

FERNANDO ANDRADE – O universo das irmãs gêmeas é descrito por você com uma riqueza de particularidades semânticas. Mas por mais parecido no universo da física, quando lhe damos no aspecto narrativo das vidas, tudo é tão polissêmico e diferente. Como foi desenho das duas?

BEATRIZ CRAVEIRO –  Convivi com elas por um tempo. Antes de dormir, tinha ideias de cenas, pensava “isso combina com a Lavínia”, “isso combina com a Lívia”. Ambas nasceram de mim, com particularidades minhas, e da observação de outras mulheres com quem convivo/convivi. Mas depois que a história foi se desenhando, elas ganharam vida própria e já não dá para encaixá-las nesta ou naquela referência.

 

FERNANDO ANDRADE – A paranoia é colocada por você de uma forma muito penetrante e com consequências à vida dos personagens. Não há nela um efeito tão patologizante, ou há? As relações de causas e efeitos são feitas por você com  ou sem sintomas muito agudos? Fale disso.  

BEATRIZ CRAVEIRO – Acho que a paranoia aparece no Elefantes barrem de maneira patologizante, sim, com sintomas bem agudos. Veja o que aconteceu com Orlando (fugiu) e com Lavínia (suicidou-se), os dois personagens com potencial de transtorno de personalidade paranoide. Não conseguiram encarar a própria vida.

 

FERNANDO ANDRADE – O sinal de dor pode vir de um grito, de um urro. Mas no nome do livro a emissão de sinais vem dos elefantes no circo. Eles barrem. Qual é relação deles, com o livro como um todo?

BEATRIZ CRAVEIRO – Os elefantes manifestam o sofrimento pela voz, pela fala, pela oralidade, coisa que Orlando e Lavínia não conseguem fazer.

 

FERNANDO ANDRADE – Uma curiosidade minha, você fez algum tipo de pesquisa de palavras\ sentidos para o livro?

BEATRIZ CRAVEIRO – Sim, pesquisei a origem de algumas palavras, cujas etimologias aparecem na narrativa, como “cesariana” e a origem dos nomes das gêmeas.

 

FERNANDO ANDRADE – Me fale um pouco da cena literária de Brasília? Podemos dizer que há uma estética comum entre os autores da cidade?  

BEATRIZ CRAVEIRO – Acho que a cena literária de Brasília está cada vez mais pulsante. Este ano temos a Paulliny Gualberto Tort lançando contos de seu livro Amanaçu pelas plataformas digitais e a estreia do Vitor Camargo de Melo no gênero romance, com Embaixo das unhas, entre outras iniciativas que vêm tomando forma. Agora dizer que há uma estética comum entre nós, não sei… Acho que um especialista em literatura comparada poderia responder melhor essa questão. Como parte integrante do objeto da análise, não consigo ter a visão do todo de modo imparcial. 

 

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