A poesia esférica e girante de Rique Ferrári brinca com os contornos dos traços da vida | por Fernando Andrade

rique ferrari roda gigante - A poesia esférica e girante de Rique Ferrári brinca com os contornos dos traços da vida | por Fernando Andrade

 

 

 

por Fernando Andrade | jornalista e crítico de literatura

Um encontro e uma despedida seriam dois amantes em um mesmo círculo? encontro nasceria na partida de uma melodia que sopra desejo, ritmo e poética. Despedida seria um lance ou laço que dá o arremate à canção já afinada pelo arranjo estético. Despedida poderia estar mais para forma de uma obra, de uma canção já gravada num último vinil daquele genial artista. Enquanto encontro dá ao seu tom; a liberdade dos começos; dos improvisos, da pauta à partitura em linhas mestras. Os dois quando se urdem num mesmo abraço, tocam a cauda de um e de outro, fazendo o mesmo eterno retorno sobre a circularidade do rios, dos mares que estão melodiosamente além de si mesmos e outrem lugares. Mas e a linha, por onde ela começa a traçar o poema?

No caso do livro novo de Rique Ferrári, Roda Gigante, ( editora Penalux) é uma linha que não mostra seu eixo, gravitacional. Pois não há inícios nos poemas do poeta, são pedaços ou tablets de epifanias sobre o sensível. Para isso o poeta precisa de um domínio intenso da língua que usa para maleabilizar os textuais possíveis sentidos que atravessam o poema numa não ideia de fechamento\ conclusão, pois assim o rabo não se morde.

A ideia de um lugar que não tenha centro ou núcleos como o mar pois os rios têm suas margens que dão a medida exata ao fluxo da água corrente. Rique faz da palavra uma sina de água movimento pelos deslizes de sentido que parece dar ideia de um ciclo como algo de uma vida em decurso adiante. Porém na sua fratura de exprimir uma noção de tempo ou conceito de finitude, a linguagem no poeta torna esta roda circular girante e móbile à seu eixo vazado de centro.

Não há assim, um tipo de painel sobre a existência terrena de algum biografado. Há o jogo e a brincadeira em afogar a tal margem e até algum tipo de horizonte para onde o livro como objeto pode se postar. Quem olha do alto da roda não sabe olhar novamente quando está em baixo, pois lugar ou referência é um não lugar para um poética que busca o desnorteio, a (des)viração da bússola.

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This Article Has 1 Comment
  1. Celi Luz Reply

    Gostei dos artigos! Parabéns!

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