Fernando Andrade entrevista a poeta Sabrina Dalbelo

RASGA OSSOS SABRINA DALBELO - Fernando Andrade entrevista a poeta Sabrina Dalbelo
 
 
 
 

FERNANDO – Há um cruzamento entre o jogo lúdico e próprio ato de criar. Você deriva as experiências da poética de um riso ou sorriso com a familiaridade das palavras com as coisas e os afetos. Fale disso.

SABRINA – Fernando, que alegria poder, pela segunda vez, apresentar o mundo de um livro meu para ti. As tuas perguntas, como te disse, lá quando respondi à entrevista referente a “Lente de Aumento para Coisas Grandes”, são certeiras e bastante profundas. Obrigada por isso.
Essa pergunta diz muito sobre o meu modo de escrita.
A ideia de Rasga-ossos foi aliar símbolos e alegorias que, no entendimento comum, vivem em dissonância. Eu tentei mesclar num mesmo contexto poético figuras paradoxais ou distantes (ele e ela; acrobata e psicopata; senhora de lenço na cabeça e moça do lenço na cabeça; por exemplo) por que meu objetivo foi o de mostrar que a poesia possibilita isso, essa contextualização. O cerne do livro é falar de algumas durezas de simplesmente viver, essas que estão conosco todos os dias. Eu quis trazer essa percepção para a leitura.


FERNANDO – A gramática é um bom mote poético? Como lida com ela para seus passeios pelas regrinhas gramaticais.

SABRINA – Eu adoro gramática! Sempre gostei e, confesso, tenho facilidade para regras de língua portuguesa. Acho a nossa língua maravilhosa e adoro viajar nas palavras e verbetes praticamente ilimitados que ela oferece.
Não só acho que a gramática pode ser tema de poema, como escrevi um, que está em Rasga-ossos, em que desafio o leitor à compreensão de verbetes em que as preposições são inadequadas. No poema, inclusive, eu informo ao leitor que aceito o estranhamento dele, ao ler. O nome do poema é CONCORDÂNCIA.

 

FERNANDO – A ciranda é um acerto com cantiga mas que cabe sempre o de fora, o estrangeiro. É como uma contradança onde o entorno é convidado para ser o par da vez. Isto se deve a tua escrita ser uma janela para a vista de fora. Comente um pouco.

SABRINA – Lygia Fagundes Telles diz que o leitor não é apenas um convidado, um coadjuvante, um agente externo do que é criado. O leitor é, segundo a mestra, um cúmplice do escritor. Eu acho essa definição de uma grandeza e verdade incríveis.
Se um poema é como a criação de uma ciranda, o leitor deve ficar de mãos dadas na roda. Mas não só, ele tem direito de saber a letra da cantiga, para poder cantá-la em alto e bom som. Acho que o leitor ideal é o que aceita a contradança.

 

FERNANDO – os poemas do Rasga-ossos dão uma certa linha de fábula sobre pertencimento, mas ao mesmo tempo de perda? Como se os sentimentos fossem partilhados por uma certa face paradoxal. Fale disso.

SABRINA – Sim, viver é pertencer à existência e a existência é prelúdio do fim.
Viver e morrer, amar e sofrer, sorrir e chorar, ser feliz e flertar com o abismo… todos lados opostos da mesma moeda. Não há um sem o outro. Os antagonismos sustentam uns aos outros. Eu queria mostrar isso nesse livro.

E quis ousar, na forma também. Tem poema que brinca com o som das palavras, não só com o sentido, tem poema-fábula, tem poema com palavra escondida, tem poema em formato de documento oficial (ofício), tem soneto, tem palavras destacadas a depender da significação… eu gostei muito de escrever os poemas de Rasga-ossos. Eu me senti mais livre para ocupar as palavras visíveis enquanto me referia às sombras.
Tenho a agradecer aos editores Tonho França e ao Wilson Gorj e a todos que me incentivaram nesse projeto, inclusive com críticas. Tudo foi válido.
Obrigada, Fernando, por essas perguntas e por me dar espaço para falar do livro e dizer que estou orgulhosa de Rasga-ossos. Fico feliz que tenha gostado do livro.

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