por Fernando Andrade | jornalista e crítico de literatura
O mar e seu entorno, a praia, o cais, o porto, seria o primeiro farol de uma vertigem poética, onde não temos a nomeação, ou sua conceitualização, para mundo duro e concreto que o espaço não dá margem, nem folga. Numa cidade, estabelecer horizontes, é apenas uma figura de retórica, é algo que não está na linguagem, mas sim, em edificações de compromissos. Ao horizonte é preciso ter um espaço aberto e longe do apego humano, a vastidão do olhar na linha que separa a terra do mar, é algo miraculoso, pois está atento ao desejo, do olhar, mas não contato.
A praia é o primeiro lugar onde podemos nos sentir livres, e despossuídos de roupa, da civilidade, de sermos nus com nossas carenagens civilizatórias. É no espaço da linguagem que o mar e seus entornos, nos dão esta não posição fixa, para fazer da poesia algo, que não nos marque, não nos identifique como um esteio civilizatório.
No livro O mar que restou nos olhos, do poeta Eduardo Júlio, editora 7 letras, o real através de um cotidiano, não, cronológico é marcado pelo passar dos dias, o tempo é esta miragem, onde os contornos se borram, em fantasias e afetos, por uma construção de uma memória que se elabora pela relação com a chuva, com a neblina, pela fugacidade do olhar um lugar que não é territorializado em posições, nem de hierarquia nem de ordem.
Só no mar podemos borrar as distinções entre passado, presente e futuro, as palavras se adensam por não ter uma finalidade por norteá-las ao contexto social. O poeta cria imagens belas, onde o leitor percebe o lugar, a ilha de São Luiz, por uma imagem finíssima de alusões e metáforas sobre a referência da cidade ao leitor que lhe faz pouso.
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