procura à noite | André Plez

André Plez é escritor e poeta, e também apaixonado por seu outro modo de vida: ser professor de língua portuguesa. Faz doutorado em educação, possui mestrado em linguística e é especialista em literatura brasileira. Natural da cidade de Mococa/SP, se dedica à leitura e escrita literária desde a infância.
Escreveu os seguintes romances: “Tratando sombras com ternura” (2012); “Os insones” (2013) e “Exagerados encantos de Elena” (2016). E os livros de poemas: “A coisa em si” (2008); “Os sentidos nos degraus” (2014) e “Entre o vírus e o verme se esgueiram poemas” (2021). Contatos: andreplez@gmail.com. Site: https://andreplez.wixsite.com/andreplez

 
 
 
 
 
procura à noite

a noite desceu
tampou
com a noite de todas as noites
a esperança

a noite
lenta caminha
como quem alucina
um pobre diabo

gritos
lâmpadas erguidas
vasculhem o beco
o abismo

a ilha esquecida
achem um pouco daquele menino e daquela menina
só um pouco…

os engravatados chegaram à noite
trouxeram quilos e mais quilos de cocaína
trocaram com os lobos de uniforme
que comem medalhas e rins e joelhos
trocaram por grana alta altos barcos brasões aviões e vales-terno
insígnias medalhas viagens pensão para as filhas solteiras
agora desfrutam do árduo gosto da bílis
(que na alma mora)
enquanto escondem os crânios do sacrifício

a noite de todas as noites
chegou
tinge-se de verde e de amarelo
trazendo deus para cima de todos
como cão raivoso que quer a carne
não o osso

ela sumiu naquele tempo escuro
ele desapareceu na sombra
sem deixar adeus
ainda o procuro nos sonhos difusos
ainda a procuro quando olho o pente
na meia rasgada
na lua embaçada e fria
para onde foi meu filho de cabelo desgranhento
para onde foi minha filha que lia livro de capa vermelha

sobre as buscas na região do araguaia
chegou a grande sombra
e ao som da noite em treva
urro
replicando a voz nojenta:
“quem procura osso é cachorro”.

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