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FERNANDO ANDRADE | jornalista e escritor
A palavra está primeiramente no corpo. Ela sai da boca articulada pelas tensões do desejo. Quando o corpo está descompassado, culpa ou dor, a palavra tem torções, ela se volatiza perante algum misterioso desígnio. Mas ações também são palavras invisíveis, assim como a fé é uma oração cheia de frases, telegráficas. Quando recalcamos o desejo, entramos em algum mundo cheio de possibilidades de lacunas onde o temor, o respeito parecem se juntar como o ódio, a raiva, rancor.
A ficção é um um lugar onde estas lacunas podem ser mediadas tanto pelo desejo de encontrar alguma filosofia, onde causas primeiras se estabelecem perante o conflito das razões. Ciência e fé parecem ditames tão antagônicos, uma movida pela fé cega e amolada dos cordeiros de cristo, escritas pela medição de culpa e remorso. Outra usa o método para extrair relações entre uma ação e seus efeitos e consequências – até uma base filosófica do livre-arbítrio, parece ser seu discurso do método.
No livro que parece se desnortear em classificações, e portanto não ter uma linha fixa de constituição, A missa dos insetos mortos, de Cleber Pacheco, pela editora Penalux, nos conduz pelo caminho entre a ilusão de que corpo pode ser santo ou puro quando mediado por palavras cheias de interseções. Um guardião parece tomar conta de uma casa onde se encontram virgens adormecidas. O corpo delas, sem qualquer latência, parece emitir uma religiosidade perene. Mas, fora dali, um grupo de peregrinos com tipos de doenças como lepra, ou algum tipo de redenção a obedecer, chegam para pedir alguma bênção às virgens com relação ao seus corpos que parecem estar com algum tipo de decomposição física, mas também, anímica.
Cleber através de um texto cheio de imagens religiosas nos faz entrar dentro de um universo onde a fé é quase uma narrativa gnóstica de purificação e desejo. Violência e recalque são projetados pelos peregrinos que postulam uma ambivalência bem arquetípica dos contos primitivos.
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