Marcelo Frota fala sobre seu novo livro ‘Amores Desfocados’ – por Fernando Andrade

amores desfocados - Marcelo Frota fala sobre seu novo livro 'Amores Desfocados' – por Fernando Andrade
 
 
 
 
 

FERNANDO ANDRADE – Até que ponto seus livros de poesia se conectam com uma narrativa cinematográfica de uma história de amor? Quais os vínculos com o meio visual?

MARCELO FROTA – A poesia é visual. Ao lermos um poema, visualizamos, imaginamos seu conteúdo. A narrativa cinematográfica é uma forma de escrever o poema, de lhe dar dinamismo e de eleva-lo acima das palavras. É possível fechar os olhos e enxergar uma das personas/personagens de Amores Desfocados em seu sofrimento pela perda do ser amado. É possível colocar essa persona em um filme do Woody Allen ou do Walter Salles. Vincular poesia e cinema, para mim, é algo natural, muitos filmes são poesia em imagens. Um exemplo é Asas do Desejo, do Wim Wenders, onde o roteiro existencialista e poético, casa com as imagens de uma Berlim ainda dividida pelo muro. Cinema é poesia, e poesia também pode ser cinema.

FERNANDO ANDRADE – Sua voz é de uma mulher que pulsa erotismo, até na falta. O desejo parece sua principal pulsão vital. Como construiu essa poética tão feminina usando a linguagem que não é igual à masculina, para aflorar no leitor, o imaginário feminino, no amor?

MARCELO FROTA –  Amores Desfocados só poderia existir no feminino. Não havia outra forma deste livro ser escrito. O sofrimento pelo fim do amor é diferente na mulher. Ela sente mais, sofre mais, ainda mais se ainda houver amor.
E a mulher leva mais tempo para “partir pra outra”, para “se dar”, seja em um novo amor, seja no sexo. Isso, é claro, não a impede de sentir desejo, de querer sentir prazer, de experimentar um gozo fugaz. O uso da linguagem veio naturalmente. Sempre tive mais amigas que amigos.
Sempre estive mais conectado ao feminino que ao masculino. Acompanhei o sofrimento de várias amigas com o fim de uma relação e como era difícil sair desse circulo vicioso de dores, de ainda amor, então Amores Desfocados é, basicamente, sobre viver o luto do amor, e o superar, seja através do sexo, dos porres, da arte, do que for alivio imediato.

FERNANDO ANDRADE –  O amor e o desejo estão muito aflorados no imaginário do consumo. No cinema temos a bebida e o cigarro. No seu livro, essa fruição parece falar um pouco do cinema americano, com suas bebidas, seus moços e até vilões. Como esses elementos funcionam na semiologia do desejo dos personagens, principalmente, na sua estética?

MARCELO FROTA –  Sou um grande admirador do cinema americano. Não é um cinema descartável, ou apenas de super-heróis ou carros velozes. É um cinema que produziu clássicos como Casablanca, Manhattan, Sociedade dos Poetas Mortos, A Lista de Schindler, entre muitos outros. Existe bebida e cigarros no cinema, na literatura e na vida. Somos seres de vícios e que se entregam aos vícios, ao prazer fácil, aquilo que pode ser comprado.
Na minha poesia, beber e fumar é algo corriqueiro, pois também bebo e fumo. A arte é feita de drogas licitas e ilícitas, e fumar “unzinho, e ouvir Coltraine” não deve ser um prazer restrito ao Renato Russo, como o mesmo menciona em sua canção. Nem todos fumam unzinho, e acredito que poucos ouvem Coltraine, mas é só substituir unzinho por chocolate, e Coltraine por Chico Buarque, que temos o mesmo cenário, apenas com elementos diferentes. Viver é viver em vícios, sejam eles cinema, literatura, sexo ou livros de colorir.

FERNANDO ANDRADE – Há muitas citações de músicas, tanto na MPB quanto ao rock. Como é esse trabalho de referências na sua escrita quanto ao leitor de repertório cultural da arte?

MARCELO FROTA – Coloco na minha escrita aquilo que gosto. Ouço MPB, rock e muito Jazz.
E estes elementos acabam entrando na escrita, pois fazem parte do que sou. Minha música favorita do Beatles é The Long and Winding Road, e ela está em Amores Desfocados em um dos melhores poemas do livro.
É também uma forma que tenho de mostrar a arte que me forma, aqueles que me leem. Não existe escritor que não tenha sido influenciado por outras artes, e, claro, nem todos a incorporam essa arte na sua, mas acredito que isso seja uma escolha, e escolho mencionar aquilo que me influência.

FERNANDO ANDRADE – Fale um pouco de seu trabalho como crítico literário em sites como o Literatura & Fechadura.

MARCELO FROTA –  É algo quase sobrenatural fazer a leitura de um livro com o objetivo de escrever uma resenha sobre o mesmo, pois isso representa adentrar na arte de outra pessoa e colocar minha visão sobre a mesma. Resenhar também é uma arte, e me sinto muito gratificado quando tenho esta oportunidade. É algo que faço de coração, e que me faz sentir mais vivo, pois a arte é um universo infinito, assim como é infinito o coração daqueles que se propõem a escrever e ter sua obra lida pelos outros.

www.editorapenalux.com.br/loja/amores-desfocados

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