Jean Narciso Bispo Moura | poeta
Livro de poemas ‘Paganíssima trindade’, da poeta Mô Ribeiro, editora Penalux, 2020, 128 páginas.
O Paganíssima trindade parece intercambiar o território de uma poética alheia à manifestação classicamente sagrada, ou seja, mantém certo distanciamento, sendo um Caim que veta do seu itinerário: Deus.
Na leitura do livro, em especial, um termo invocou minha atenção, o vocábulo cabeça assume na escrita uma postura de agente passivo, receptáculo de tragédia e embates. A cabeça, sendo líder-mor captura coisas de toda sorte: do gáudio circunstancial à violência simbólica. Neste sentido sublinho que há um deslocamento mental que pede de forma silente um arejamento contínuo a algo ente externo e não sabido.
Para tanto a autora demonstra intercruzar pensamentos e instantes vividos pelo eu-poético, reverberando no pilão da linguagem os grãos existenciais. Reitero que os poemas parecem realizar em algumas cenas interlocução com uma espécie de açoitadas e dolorosas experiências cotidianas, revidando pela linguagem o que não foi possível fazer de forma real e física, conversando deste modo com o papel-divã em tom íntegro e prosaico.
O livro Paganíssima trindade desloca-se entre silêncios daquilo que quer ser dito com a interrupção daquilo que a palavra quer e ambiciona dizer, circulando no povoamento de ideias como um alazão histórico selado pela disrupção de quem se percebe só e sóbria num horizonte hipnotizado pela cristandade.
Obrigada pela resenha, Jean! Dá muito o que pensar e o que sentir. Adorei o que você escreveu justamente por isso e além disso.