Fernando Andrade | jornalista e crítico literário
Na cena do poema também existem seus cortes. Não são pausas para a leitura. São léxicos de som e sentido que fazem a transição entre os versos. Por isso, digo que cinema é o verso em imagem no movimento reticulado dos fotogramas. E uma palavra me vem à mente quando penso na poética da poeta Katia Maciel, neste seu novo livro, Slides, 7 letras, que é o deslizamento entre a forma-semiologia do poema e suas significâncias.
Kátia faz um trabalho de escrita na fronteira entre o olho que capta imagens e a estrutura imagética da gravura ou suporte do poema. São artesanais por dentro, onde existem uma certa metalinguagem em inscrever a língua em imagem e som, ritmo, e sentido, que não é tanto um mero capricho de interpretação, mas sim, da aparição entre o espaço e as distâncias, não só físicas, entre as palavras.
Por isso, seus versos no início falam delas justamente, ou da sua expressão sonora: a fala. É nesta proposição do falar talvez em demasia, sem silêncio, sem escuta, que a poeta irá tentar fazer um belo trabalho de síntese quase japonesa sobre tanto os ruídos, as cacofonias da linguagem. Eu diria que Kátia também empresta na sua visualidade um Q da forma da pintura, onde o quadro parece não ser tão fixo na moldura do que ele expressa. É como se a poeta girasse o entorno-contorno para pluralizar a semântica de sua estética.
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