Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura
Todo cirurgião tem seu bisturi para fazer uma precisa incisão no local pontual. Aquele que dói uma dor que não tem uma certa localização. A dor se refrata pelo espaço do corpo, embora o corpo, ou pensamento, tente localizar o lugar preciso que dói. O bisturi é ação que narra e modifica aquele lugar que desencadeia um certo conflito. O drama numa narração do conto estaria numa certa analogia para esta precisão do traçado do escritor quando imagina sua história. Porque ele pretende ser tão focal e preciso como um médico que opera.
O drama também se espraia pelo tecido narrativo vendo sua dor ou sua estética relacional entre personagens e ação humana. Fico pensando nesta relação quando leio o novo livro do Tiago Germano, Catálogo de pequenas espécies, pela editora Caos e Letras. O autor é extremamente preciso em esmiuçar onde determinado traço de embaraço, ou conflito, pode ser tão humano a ponto de não precisar conter, tão em voga, alguma pátina de violência.
Tiago escreve por longos espaços de afetividade quando ação primária de seu personagem fecunda focos narrativos, que se desdobram com ações que funcionam com um prisma que refratam sentidos para o resto do conto. Não há sobras, ou gorduras, pois toda consecução dos eventos dramáticos ficam enfeixados pelo dedos e mãos dos seus outros personagens.
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