Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura
A esfinge não fala, não canta e não solta poemas porque dá a nota através de enigmas. E enigmas são sondas em torno do espaço, apenas. Falar por mensagens não vale, o poema é um traço sobre certa imagem sonora que repercute a segunda ou terceira camada na neve da linguagem.
Neste espaço onde pés poéticos andam, o poeta deixa pegadas, através das cintilâncias, que sondam não só o som, mas o ritmo de agudas pontadas de solidez crítica sobre o racismo operante na sociedade brasileira. Entre pegadas e pisadas, raízes deste lugar de origem, onde a ancestralidade de uma lira faz fagulhas que nos dá tanto de Itamar à Nascimentos de uma música que não descola nos ouvidos mais exigentes.
Pollyanna, em seu primeiro livro de poemas Siringe, ( reformatório) retraça a poética da luta pela cidade, e pelo movimento dos braços que ensinam nas escolas públicas das mãos que pintam, bordam, e brincam de fazer caminhos nos terreiros, no candomblé, da religião mais mestiça onde a palavra é dança, mistura e gira. Há nestes poemas a alegria mais espiã, girada em torno de um centro que nunca se nucleia pela dureza mais áspera dos sentidos.
O sentido na poeta é sempre maleável, e brinca com o entorno do que pode ser andança por tanta cultura que tanto bate até que fura. Dividido em quatro cantos, cada qual com um tipo de pássaro canoro, onde sua habilidade de voz está na sua condição do sopro poético da melodia, em cantar à noite, que sofre de uma extinção predadora sobre sua matriz estética e sonora. A Siringe é uma corda que não define sua etnia, pois carrega dentro dela, sua própria capacidade de ser identidade quanto à palavra, voz e pintura.
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