Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura
Traveste poeta o homem em mulher. Bote suas vestimentas de linguagem no corpo dos dois. Na canção o que importa é o sentimento de meta poema ou metamorfose. Já troquei tanto de cigarros, fumando, até uma garrafa de rum como se fosse ruim o gosto dos trocadilhos. O cinema é o lugar das poses e poéticas do sair e colocar-se no lugar do outro, sai e entra de cena como um animal inquieto que busca o sexo como uma posse que nunca existiu pois amar é dar o que não se tem. Na pele película de um filme-verso, a moviola do poeta Marcelo Frota, nunca dilui seu copo corpo semântico sobre o amor filmado ( Amores desfocados – editora Penalux) em preto e branco na matiz de uma paleta de pinturas rupestres.
Marcelo cria a relação dialógica entre prosa e poema fazendo uma terceira via de comunicação com leitor que seria um discurso totalmente cinematográfico de matizar versos na página. São poemas para ouvintes com margens que cantam e poematizam as relações carnais entre homens e mulheres, mas também, se mimetiza em uma ótica feminina, onde a mulher lanceia seu desejo que não está na procura totalmente pelo homem, e sim, pelo afeto ou pela liberdade de não ser presa.
A poesia como travestimento de um lugar do corpo onde o êxtase é ainda o carinho de um corpo tocado e não sua doma. Mas me pergunto se é possível esta dinâmica, se temos no cinema tanto poder de síntese sobre o masculinismo. Respondo o imaginário leitor do cinéfilo não é igual ao grande produtor que controla a grana e o espírito da máquina de sonhos.
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