Fernando Andrade | escritor e jornalista
Um poema haicai dá o pulo do gato. Um poema não diz, confia em seus sentidos brincantes. Um poema que dá a pata de um felino, mas não mostra as patinhas na neve. Existe artimanha num poema que ganhe em tamanho e forma até virar canção? Se um músico musicar um haicai-gato, a música ter-mia de supetão?
Estas tergiversações que proponho não são jogos de sete erros, mas parecem minhas brincadeiras com o senso lúdico do movimento que tanto pode ser de um certo gato riscando o espaço com saltos poéticos, desenhando palavras, pois a coreografia de um gato também é uma assinatura delas, só que escondidas no não dito ( suas lacunas)
O gato já foi poema, já foi canção, até personagem de romance. Agora o gato revira um livro meio ensaio fotográfico; um livro de fotogato, onde as legendas parecem conter versos que duplicam imagens e sentidos polivalentes de uma cidade como Teresina lotada de tais felinos, em diversas poses, jeitos, facetas.
Seu autor Thiago E, neste livro, tão menestrel, Os gatos quando os dias passam, editora 7 Letras, traça uma certa ciranda musical, com se fosse um pequeno show de variedades dos gatos que usam a fisionomia do poeta para expor sua humanidade felina, seus hábitos, suas formas de engatinhar e ver o mundo por um foco quadrúpede.
Thiago trabalha o corpo elástico dos bichos numa voltagem quase teatral, onde som, musculatura e agilidade parecem quase um espaço coreográfico de dança. O haicai parece quase uma extensão de uma sutil enigmalidade dos bichanos.
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