Fernando Andrade | escritor e jornalista
A frase ilusão de ótica é uma armadilha bem interessante. Olhar algo que não está ali. Uma percepção fantasiosa que derruba os olhos naquilo que ele tem de mais sensível: a imagem. Um cinema às avessas onde o não existir de suas imagens parece um truque da potência do desejo de ver além, além mar.
Mas pego esta palavra e a contextualizo, por exemplo, no universo do poema, poderia dizer que a pintura que faço das palavras, emoldurando-as na página, não seria uma bela ilusão de olho, porque vejo o poema pronto? mas não, sem antes fazê-lo.
Não é que o poema nasce pronto, ele é uma bela realização da potência do criar-se, ato de ver-se na imagem na arte paradoxal do nome ser. Portanto, a vida que escreves, Rogério, em poemas, ela já está lá, não a vida biográfica, a vida pulsional, imagética, terna, terra, magma – vida. A pulsão se faz pelo uso das palavras que torna o ato pensamento (in)visível; a lacuna em potência estética, poesias vibrantes com suas teias e fios de signos e significados.
O poeta Rogério Bernardes faz desta ilusão fabris, um elo tão forte e encantatório, em seu novo livro, O que não sangrou no caminho, Editora Penalux, com trilhas e pegadas do seu desejo enquanto escrita do que o poeta se avizinha do próprio voo. Um voo sem traço? sem traçado, não! Há uma linha poética que ele encaminha em forma de contornos – uma imagem que não o define na vida ordinária, mas sim, extraordinária.
E também não como um processo terapêutico, onde o analista diz você se forma e existe, aqui. Imagens são definidoras de algo? Elas partem da ilusão do real, enquanto dupla película do olhar sobre as lembranças.
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