Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura
O olho que vê a paisagem é o mesmo olho que faz a viagem? A mão que pega a carne é a mesma mão que açoita a noite? Não estamos K neste mundo de horror no universo das ideologias. Talvez precisemos da astrologia, dos astros, para nos apontar quais caminhos? Mas, queridos, temos a palavra, não a bendita, a santa. Temos a confusão dos sentidos, o tropeço dos ideais, é por que não, o paradoxo da semântica.
A poesia é o jogo que embaralha estas relações entre ser e, apenas, aparecer. Se me jogo no poço das contradições, posso me levantar de manhã e sonhar que sou outro, um alguém mais barato, que leve-me kafka adentro na noite escura. Quando leio o poeta Irineu Simonetti, em seu belo Sobrevidas, editora Penalux, vejo o sinal no fim de ruas e avenidas.
O poeta desmagnetiza o bom ruído das mensagens que povoam esta nossa civilização à beira da ruína. Jogos de palavras fazem o clima do tempo ruim dos ódios das diferenças, entre lados opostos (opositores?) O poeta lida com a nossa semântica mais realista? Criando efeitos da linguagem para arruinar uma certa lógica de pouso das definições que parecem ser ou dizer sempre a mesma tecla.
A poesia só nos aproxima depois do hiato da compreensão e do entendimento. E o poeta trabalha como poucos esta distensão da lógica binária, separatista, entre o mundo da linguagem e o universo magnético das coisas.
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