FERNANDO ANDRADE | Jornalista e crítico de literatura
Será provável que a experiência modifique a memória para evocar estados do ser? Aquele momento que penso, se penso coloco a atuação em jogo. Evocar é um pouco esquecer do agora que caminho por uma alameda cheia de flores. Evocar seria trazer o cheiro das flores pela lembrança. Algo que a poesia possa pintar elementos que não existam, pois lacunas são um processo do desejo faltante.
Mas quando escrevo algo perto do relato, que não é diário, estou trabalhando não só o momento, agora, mas junto, faço uma pintura da epifania de outrora. Quando li o novo livro da poeta Helena Arruda, Há uma flor no abismo, ( Urutau) senti que estava dentro do filme onde as imagens podem evocar estas polissemias de lembranças, criando um universo vibrátil de metáforas.
Sua linguagem muito magnetizante, evoca passeios, caminhos, tudo com certa atenção a um Eu lírico atuante entre a prosa e o poema, vivenciando o eu profundo da condição feminina.
Nesta travessia entre o que foi e o que será, o devir, matéria figurativa da memória, há uma importância com o aspecto não factual da linguagem, nomear deixa de ser causa nestas relações entre lembranças e o ato criativo da escrita.
Be the first to comment