Fernando Andrade: Há uma relação dialógica de seus poemas com a narrativa de Dom Casmurro. Como teceu esta interação entre prosa e poesia?
Nina Schilkowsky: Eu primeiro tive a ideia de recontar um livro clássico através de poesias. Meu processo criativo para esse livro foi ler um capítulo de “Dom Casmurro” e escrever a poesia logo em seguida. Eu voltava muito ao original procurando ideias; muitas vezes eu usava frases do original, mas misturadas às minhas ou numa ordem diferente.
Fernando Andrade: O livro de Machado busca na leitura até uma participação ativa do leitor. Seus poemas abrem lacunas para certas intertextualidades com leituras diversas, Homero, Shakespeare, e outros. Como foi esta relação com o universo da leitura nas dobras ou malhas das letras?
Nina Schilkowsky: Isso eu devo muito a Machado. É claro que tem muitas das minhas referências e leituras prévias, mas Machado nos convida à intertextualidade. Eu estudei bastante Mitologia Grega na faculdade, então são histórias que povoam o meu imaginário e entraram no livro. Eu cresci ouvindo Milton Nascimento, daí muitas frases de letras dele que fazem uma intrusão aqui ou ali. A ideia era um pouco trazer “Dom Casmurro” para o século XXI.
Fernando Andrade: Como foi manter o ritmo de uma poética buscando a todo momento uma narratividade intrínseca ao romance do autor?
Nina Schilkowsky: Talvez o desafio seja manter a poesia e não seguir com a prosa, não escrever de novo a mesma história, mas reformular mesmo. Tentei escrever um pouco com a voz do Bentinho, outras vezes o capítulo “pedia” dar o foco a um outro personagem; mas acho que talvez a resposta para essa pergunta seja que eu me coloquei ali. É a minha leitura sobre o livro.
Fernando Andrade: Você parece que consegue preservar nos versos certa ironia Machadiana. Como foi destilar neles certo olhar agudo sobre as relações humanas?
Nina Schilkowsky: Primeiro, muito obrigada. Ter o texto comparado com a ironia machadiana é uma honra. Volto a dizer que devo muito a Machado, nossas influências vão se entranhando na gente e nos formam. Como me referi antes, tentei escrever com a voz do Bentinho, talvez a ironia tenha pulado do texto de Machado para os meus olhos. Posso dizer que foi até divertido; poder se fazer de Casmurro e destilar um olhar mais agudo talvez seja também um convite machadiano.
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