Fernando Andrade | escritor e jornalista
Um passeio pela praia revela alguns níveis de leitura. Tão perto dos pés tem a areia, onde a pisada requer um certo esforço para ver de longe o perto. Se olharmos para o mar, os olhos vêem certo feixe de um horizonte que pode provocar certas ilusões. Mas ao verticalizar o mar já nos direcionamos para o plano de uma ilha, lugar de ficção, de exercícios de certas aprendizagens com a liberdade. Um livro como do autor Mario Fioretti, chamado não à toa de Entre o mar e a terra, editora Penalux, nos convida para o embarque, sem enjoo, para uma viagem ao horizonte de muitas fronteiras, tanto terrestres como de gêneros.
A escrita do escritor vaza por entre cristas de ondas revelando ora um mergulho quase como personagem de um filme na cultura tanto nômade como raiz de um lugar onde política, misticismo, religião se confabulam às mil e umas(maravilhas) noites. Mario põe em cena uma estreita ligação entre cultura familiar, e desenraizamento de um chão que passa pelo nome, pela tradição, e vai para um atravessamento de lonjuras para fazer uma peregrinação existencial pelo desconhecido que nos move para o centro da internalidade do corpo como também do humano.
Para conhecer o outro é preciso atravessar certos riscos, ter de frente com poderosos príncipes, o jogo de cintura para sair de enrascadas magníficas. Mas é também preciso olhar para quem está mais perto, como um pai que sofre um infarto e vai parar no quarto de um hospital. A escrita com forma de verticalizar certas aproximações e certas distâncias que no olho às vezes refrata por miragem ou por sonhos alucinógenos.
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