Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura
O cinema costuma captar bem personagens em crise, a câmera nos aproxima de um homem em surto, imagens-movimentos dão não só a realidade da ação, mas também, algum efeito plástico sobre a desordem. A imagem e a palavra são trocadas entre signos e sentidos de alguém que perde a razão ou a sanidade. Muita literatura já se escorou neste tema, indo de Beckett à Lewis Carroll. Mas nunca tinha visto um livro cair tão dentro da mente de um psicótico, assumindo tudo da desordem, da fala-narração, até uma completa imersão no universo delirante de um paranóico.
O escritor e psicanalista Wesley Peres fez de seu livro, Cartografias de um doente de nervos, 7 letras, um périplo sobre a crise do eu que será difícil ser batido na questão não só da doença mental em toda sua amplitude humana, biológica, e social, mas também, como interface entre áreas afins que estudam a psique humana quando acometida por alguma esquizofrenia. O autor nos põe diante de um personagem que apoia sua inteligência não num viés social, pois ele interage pouco com o ambiente social, preferindo usar a casa com espaço de liberdade criativa para se autoanalisar.
São papéis-escritos que o narrador pratica em movimento, falando de um pai que talvez o assolou na loucura que vem de longe na família. A linguística aqui serve como elemento fomentador para sedimentar a história, toda a gramática semiótica de um ser em desintegração poética sobre o uno como mote e parte do homem. Mas me pergunto se existe unicidade na parte de um corpo que se esfacela com a vida difícil numa grande cidade? Situando personagens como Lacan que estudou a mente e o comportamento do homem perante a expressão da sua labor de criar através de letras, signos e palavras, para talvez dar vazão à comporta de emoções que se carrega sem muitas vezes soltar na própria criação.
Be the first to comment