Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura
Cães e caos eram amigos inseparáveis. O cão era o melhor amigo da mulher. O caos era seu melhor (en)torno. Moldava sua rotina ciclotímica. Um não deixava o outro sucumbir à tristeza. Antes de começar esta resenha repare na semelhança fonéticas das palavras, mas cujo sentidos disparam, disparidades. Esta ideia de que há um corpo cuja dor não está tão longe da arte, me veio à mente lendo o novo livro da psicanalista e escritora, Vivian Pizzinga, chamado Ruído nos dentes pela editora Urutau. Vivian faz um jogo com a linguagem, numa cruzada de gêneros narrativos entre o ensaio e a ficção e a poética.
É como se um corpo tivesse outro dentro dele, numa voz que se interioriza reflexivamente para falar do desamparo do afeto? Da companhia ou do seu revés, a solidão. A dicção da autora em seus outros livros continua neste inalterável, uma linha que mantém acesa a fala que opera milagres e a escuta o que silencia? Mas agora neste livro em questão há algo diferente? Uma réstia de rotina, de dias passados e corridos em veloz des-atropelos. Se antes no livro anterior A primavera entra pelos pés tínhamos no conto, na narração uma interface com a psicanálise, agora neste novo, Vivian des-ficcionaliza seu discurso, em busca de algo mais empírico como a observação dos seus dias.
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