Fernando Andrade entrevista a poeta Catarina Costa

Catarina Costa  - Fernando Andrade entrevista a poeta Catarina Costa

 
 
 
 
 

Fernando Andrade – O gênero tem uma marcação importante na tua poesia, principalmente no corpo. Traços de nossos pais marcam filhos. Como se dá este pertencimento para você.

Catarina Costa – Eu faço análise há alguns anos, acredito que isso seja mais uma consequência na minha escrita. Uma consciência que é inevitavelmente culminada pela trama analítica.

Fernando Andrade – A arte visual não é apenas uma referência da arte mas também uma apropriação para sua escrita visual. Comente.

Catarina Costa – Eu gosto de pintar e estudo artes visuais na universidade, embora a pesquisa nas artes plásticas não seja da maior atenção, ainda é uma via quando a palavra escrita descansa. Na verdade, isto é bem comum na literatura e acho que é mais um estado de concentração com aquilo que o mundo está me devolvendo.

Fernando Andrade  – Para você o que as letras performam na sua poesia, como parece este desenho entre a literatura e as artes plásticas. Fale um pouco disso.

Catarina Costa – A letra é um acontecimento à parte. Se for pensar em caligrafia, é uma intimidade que se revela, ainda mais hoje, quando escrevemos cada vez menos fazendo o uso da caneta. Eu escrevo diários e acho engraçado ver como a minha letra esnoba de mim a depender do momento. É um
desenho instável que muitas vezes não obedece ao que está sendo escrito…por exemplo, às vezes estou escrevendo um poema mais sério (mais inevitável), minha letra se apressa e escorrega antes mesmo deu terminar aquilo que eu acredito que fosse necessário ao poema. A letra antecipa a palavra e nem estou falando exatamente de escrita automática, mas de uma espécie de ansiedade da própria mão.

Fernando Andrade – A palavra deus sintoniza alguns poemas seus. Fale da religião numa estética poética sua.

Catarina Costa – Difícil responder isso…eu gostaria de quem sabe, ultrapassar essa necessidade, mas ainda não consegui. Deus sempre foi uma curiosidade, um espanto não identificado. Eu sempre me perguntei muito sobre quem era esse cara, se era um cara e já perdi muito sono duvidando e precisando disso. Acaba que na escrita isso me convém a depender do poema. Eu não tenho uma religião específica, mas tenho uma fé inalienável na linguagem e até mesmo na falta dela. Pode
ser que deus ou coisa parecida esteja ali… mais precisamente nesse lugarzinho que a linguagem se oblitera. Me conforta pensar que o amor e alguma escassez nos mantém ávidos à vida (e por isso mesmo: uns aos outros). Gosto das religiões que não possuem um deus único e insubstituível (esse eu prefiro provocar na escrita), mas no meu modo de dar seguimento aos dias, costumo a me emaranhar mais àquelas religiões que os deuses operam através de um acontecer mais
ordinário. Andar de bicicleta ou tomar um banho de mar, não há linguagem suficiente para isso.
De qualquer maneira é um invisível que se apresenta dentro de mim. Nesse tipo de experiência frívola e insubstituível.

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This Article Has 1 Comment
  1. Fátima Araujo Reply

    Adorei esse livro da Catarina Costa, as poesias dela são intimistas, parece que fespem e escancara o nosso interno. Essa garota é muito boa

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