Fernando Andrade: Me conta um pouco deste livro de poemas póstumos do Cristiano. Como foi o trabalho de reunir os poemas inéditos do autor?
Claudia Pinheiro: Quando o Cristiano adoeceu em 2016, ele já trabalhava em um novo livro. Ele tinha lançado seu primeiro livro em 2014 com o retorno bem satisfatório e começava a preparar um novo livro.
Aos poucos fui reunindo o que estava no seu computador sob o título “LIVRO NOVO” e nas suas cadernetas. Muitos escritos já no período difícil da doença.
Comecei a organizar o material.
Entretanto ao arrumar outras gavetas, fui encontrando agendas e até mesmo ofícios da EBC, empresa que ele trabalhava, e que guardavam poemas e fragmentos inacabados. Fui fotografando e digitando até que percebi que aquilo não podia voltar para as gavetas. Era preciso materializar e entreguei para o Jorge Viveiros da Editora 7 Letras que quis publicar.
Fernando Andrade: Cristiano tem uma linguagem vibrante, ágil e bem humorada, nos poemas. Como era sua escrita, seu modo de criação?
Claudia Pinheiro: Já o título de seu primeiro livro “Guardanapos” (2014, Ed. 7 letras) já diz muito. Cristiano tinha o hábito de escrever, compulsivamente, em guardanapos e, posteriormente, adotou cadernetas inseparáveis. Anotava tudo que vinha a mente para, posteriormente, montar seus poemas. Escrevia ao sabor da emoção, do momento, da observância imediata. Daí, certamente, vem a linguagem ágil de bem humorada. Era sempre em cima do lance.
Fernando Andrade: A Música parece ter sido uma de suas paixões, trabalhando na rádio nacional. E os poemas possuem uma cadência melódica, grande com ritmos sonoros e fraseado bem musical. Fale um pouco desta relação entre música e poesia para o Cristiano.
Claudia Pinheiro: A música era presente no dia a dia dele. Tanto no trabalho como no lazer. Aprendeu a tocar piston, foi produtor musical, foi produtor no Circo Voador, produziu shows de bandas como Blitz, Legião Urbana, Brylho, entre outras e programador musical nas rádios que trabalhou, e, finalmente, foi responsável pela revitalização da Rádio Nacional que infelizmente não deram continuidade.
Seu sonho era ver seus poemas musicados. Alguns poucos foram. É autor de letras em parcerias com Cláudio Nucci, Jovi Joviniano e Perinho Santana.
Fernando Andrade: Fale um pouco da divulgação do livro. Haverá lançamento.
Claudia Pinheiro: O lançamento será dia 09 de novembro, quarta-feira, a partir das 19hs na Livraria Janela na Rua Maria Angélica 171, Jardim Botânico, RJ.
Além das poesias do Cris, o livro conta com textos de apresentação e de afeto dos queridos amigos poetas: Xico Chaves, Ronaldo Santos, Turiba e Abel Silva.
Fernando Andrade: Dê um contexto geral sobre a nuvem cigana, movimento poético que Cristiano saiu.
Claudia Pinheiro: Cristiano não saiu do movimento Nuvem Cigana, dos anos 1970. Ele frequentava, estava sempre atento e tinha um desejo enorme de publicar seus textos poéticos, uma imensa vontade de participar das “artimanhas”, shows de música e leitura de poemas do grupo.
O grupo Nuvem Cigana era formado por poetas e agitadores culturais, entre eles Bernardo Vilhena, Chacal, Ronaldo Santos, Charles Peixoto e Ronaldo Bastos.
Todos amigos e conhecidos dos quais Cristiano admirava e acompanhou seus trabalhos a vida toda. Ronaldo Santos, por exemplo, assina o texto de abertura.
O Nuvem Cigana representou um suporte importante no trabalho dos jovens poetas que se projetavam num difícil dos anos de chumbo do país.
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