Fernando Andrade | escritor e jornalista
Brincar com poema não é apenas soar no corpo dele a rima, o ritmo e o som.
É sim também ter uma relação estranha com as partes – palavras que se tocam, ou não se atraem por uma força magnética que no invisível do pensamento, faz-se leitura. O jogo pode ou não ter suas regras exatas, como fluxo inconsciente que borra das paredes do poema. È como perceber o poema pelo, ouvido, interno, mais interior que o mais profundo solo. Quando li o novo livro de poemas do poeta Paulo Ludmer, Desconcertos de sombra e água, raridades das coisas, Editora Patuá, meditei na sombra que reflete a pessoa, na vertical, ou na horizontal, carne ou espaço de vácuo, onde a luz deixou ali plantada.
Com um mesmo tema-palavra que percorre todo livro, Paulo faz um jogo lexical com os sentidos borrados pelo significado tão figurativo quanto um sonho. São frases que funcionam ora sozinhas ou com uma mínima conexão metafórica entre cada linha do verso. Poderia dizer que o poeta faz pintura nem tão abstrata, pois o senso do lúdico, deixam a imaginação do leitor voar mais com um lastro no solo, com caminhos de leituras. O vocabulário complexo mas não difícil, planta na orelha do seu leitor pulgas que coçam a vontade de espetar tanta curiosidade com a linguagem e seus sentidos. A raridade seria este caminho de investigação do leitor tanto pela estética da pintura, do corpo do poema, quanto pela sensação de experimentar o raro desconhecido que habita cada grão de arte do fluxo de caminhos do poeta.
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