Fernando Andrade | escritor e jornalista
A anedota se diz de um caso passado de um para outro onde o mito se desenvolve. O caso teria uma envergadura envolvendo uma história disseminada em um povoado, daí a noção de povo, onde a cultura se alastra. O conto seria a forma literária quando certa tradição oral narra toda uma cultura baseada nas tradições ou até mesmo num lugar onde a violência contamina a vida dos outros. Em Essa mundana gente, livro de contos da Ana Daviana, pela editora Penalux, os relatos parecem vindos de gente que se junta na praça para passar um conto e aumentar mais um ponto ou tamanho. Não se trata de vida rotineira, mas sim de toada de situações onde uma cidade interiorana, floresce seus mitos, suas anedotas, contadas ao pé do ouvido, de um primo ou compadre. Ana trata a narrativa com a naturalidade de uma intimidade ficcional entre o fato ou a invenção com leitor cúmplice, que recebe melhor, pois já ouviu falar de casos assim de um parentada lá de MINAS. Compras no fiado, flerte com menor de idade, são dramas que quando acontecem repercutem mais pois o espaço cênico amplia as gradações de repercussões e re-sentimentos. Ana situa esta área histórica, partindo da relação entre público e o privado, onde nasce e brota a informação às vezes deturpada, onde a mentira, a invenção, torna-se apenas, ficção.
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