Livro de poemas ‘Escuta clandestina’ faz exercício de crueldade para tornar as coisas e objetos deslizáveis no espaço

Clara Kok - Livro de poemas 'Escuta clandestina' faz exercício de crueldade para tornar as coisas e objetos deslizáveis no espaço
 
 
 
 

Fernando Andrade | escritor e jornalista

Ficar sem lugar, alugar um cão. Para passear pela alameda Boa Ventura. Os sentidos nunca pedem para estar onde deveriam ficar. Um desocupado não é alguém sem ofício. É um poema cuja estética é o não sentido, a verdade do poema é seu avesso. Por isso estamos ouvindo e prestando atenção à escuta clandestina, livro da poeta Clara Kok, 7 letras, sobre rodovias, vias, passeios ́ públicos, viagens à China, serem tão acidentais. A autora pratica certo exercício da crueldade de tornar, palavras, coisas e objetos signos deturpados pelo espaço, pela gravitação dos objetos serem deslizáveis em seus caminhos e cruzamentos. A dor aparece como elemento não de purificação, mas de estética poética sobre sublimar, criar, elevar a culpa, o remorso, para um estado meditativo de consciência zen. Não por acaso a autora faz trilhas sonoras, para mixar, colar, estados perceptivos da atenção ao espírito caminhante destes seres urbanos da pós-modernidade.

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