Fernando Andrade entrevista o escritor Tiago Feijó sobre o livro ‘breve inventário de pequenas solidões’

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Fernando Andrade – O que vi e senti nos seus contos é que o afeto se desarticula muito pela perda, no caso da morte de um ente querido. A solidão seria então uma poética da falta, do vazio em vida ocasionado pela finitude? Fale um pouco disso.

Tiago Feijó – Acredito que para esse livro concebi a solidão com um conceito mais amplo, mais largo. A solidão aqui tem várias facetas, muitas nuances. Não se trata apenas de estar só, solitário, não se trata apenas da ausência de pessoas, ou da morte delas. É claro que a perda de alguém que amamos nos ocasiona imediatamente o sentimento da solidão, mas para o livro e para a maioria das suas histórias a solidão surge muitas vezes como algo específico e particular, uma solidão muito peculiar, oriunda das particularidades de cada personagem.

Fernando Andrade – Estamos presos à vida. A liberdade seria uma falácia ao pensar em certas fraturas do ser, como desamparo, ocaso. Estamos na pele do pássaro, que não sabe aproveitar a liberdade pois a gaiola o condicionou a certa mordomia. A liberdade seria um ato violento de assumir os riscos? Comente.

Tiago Feijó – Tão difícil falar de liberdade, não é mesmo, Fernando? Clarice Lispector parece ter desmoronado qualquer discussão sobre ela ao dizer que “liberdade é pouco, o que eu quero ainda não tem nome”.
Mas no que diz respeito à história de Beethoven, o conto que abre o livro, penso que essa sua suposição seja autêntica. Neste caso do pássaro, liberdade é sim um ato violento de assumir os riscos da vida, o preço que a vida nos cobra pela liberdade desejada.

Fernando Andrade – Você é um exímio esteta da linguagem. Em cada livro, romance, contos, sua preocupação formal com as palavras parece que se apura. Como foi com este livro?

Tiago Feijó – Com este livro continuei preocupado com a linguagem, continuei lutando a luta vã, mas creio que dessa vez algo mudou. Esse apuro com as palavras que você citou passou a ser também uma tentativa de limpar a narrativa de arestas e excessos, de evitar os exageros linguísticos e as abundâncias descritivas. Passei a cuidar mais da simplicidade, essa técnica tão difícil de se alcançar em Literatura.

Fernando Andrade – O último conto tem um tema metaliterário. Este fecha o livro como uma ode à literatura, ao poder da escrita. Comente.

Tiago Feijó – Esse conto é o único que destoa minimamente do conjunto, que foge um pouco não no que diz respeito à temática mas no que tange ao estilo e espaço. E, por incrível que pareça, esse conto estava inicialmente na abertura do livro, mas o meu editor, Wilson Gorj, o realocou no final do livro, lugar exato para um conto como esse estar.

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