Livro de contos ‘Porém, a mala sempre esteve pronta’ disseca o universo masculino no seio familiar

Fernando Andrade – escritor e jornalista

A palavra descuido revela uma prática de falta de atenção, equívoco, sobre alguma coisa ou finalidade. Se formos levar ao pé da letra a ótica da escrita do texto, a palavra torna-se extremamente, pejorativa, um texto mal trabalhado, feito de jeito torto. Não é apenas uma questão de atenção, mas também, de certo cuidado, carinho com gentes, objetos, a vida regrada de afinidades. Mas o cuidado com o material da escrita revela zelo, não só nas letras, mas também na vida, com seus filhos e amigos. Viviane Ferreira Santiago em sua obra, exercita uma receita do pormenor, da filigrana, em manter uma postura ética sobre suas criações. Escrever para ela é um ato benfazejo de carinho, com as sublimações e pulsões em que a escrita se coloca na linguagem escrita. Em seu novo livro de contos, Porém, a mala sempre esteve pronta pela editora Reformatório,( telucazu edições) contos onde a autora coloca a infância sobre cuidado da proteção, do zelo, criando narrativas onde o crescimento dos meninos podem ser eivados de ameaças ou perigos, para um amadurecimento tranquilo. É um livro que pode ser sobre o amadurecimento da masculinidade Viviane revela-se uma artesã cuidadosa em burilar a linguagem não com adornos dispensáveis, mas com uma habilidade no trato com as palavras e pouco recursos de adjetivos, criando narrativas sóbrias, mas afetuosas. Embora sejam histórias cotidianas cuja rotina às vezes a morte abala uma família, um mulher, um filho morto, Viviane exercita não uma prática moral sobre seus personagens, não há julgamentos sobre escolhas e juízos, mas uma tapeçaria humanística sobre seus personagens, uma ética moral em objetivar um certa adoção masculina de homem, adotada pela força desmedida no seio da família. A mulher é vinculada pela sua força pro criativa; objetivada e elogiada pela capacidade de cuidar, zelar pelos entes queridos. Como se forma a partir da infância nos meninos, um teor de delicadeza e cuidado no trato social, principalmente na família. É uma das perguntas que a autora faz no seu livro.

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