Fernando Andrade | escritor e jornalista
Um bom conto começa não com a trama aberta para o leitor acertar os espaços onde os sinais indicam ou caminhos ou certezas. Pode trazer uma linguagem cuja sutileza traz ao leitor uma maré cheia de imprevisibilidades. Não com sexualidades tateantes em busca do afeto certo, ou desejo desmedido. Nos contos do escritor Jorge Sá Earp, há sempre muitas dúvidas quanto ao tipo de conduta que leva aquele outro a um destino proposto ou proposital. Neste livro novo chamado O veranista, editora 7 letras, personagens vagam por solidões entremeadas de literaturas, padrões da intelectualidade ameaçada por meios da comunicação de massa como TV e proximidade de um galã de novela. São dramas com muita figuratividade e sem figuração, pode vir de uma diva de teatro, rememorando ou encetando o fim de uma carreira gloriosa. Jorge encena sua escrita como um teatro de alcova onde os personagens atravessam falsas ruas para algum bom augúrio ou sinal do destino. São na maioria das vezes portas fechadas como no conto onde dois homens tentam fugir de uma prisão numa ilha debaixo d’água. Ou uma persona feminina transversalizando a ambiguidade do alter ego em máscaras onde a vontade\desejo é liberta da força e da pressão masculina. O veranista enceta mais uma vez a versatilidade de Jorge em atiçar deslizes e facetas por entre margens sociais e convenções da boa ética de sociabilidade.
Adoro os contos do autor Jorge Sá Earp.