Fernando Andrade | escritor e jornalista
Um amigo quando viu que seu parceiro estava só, deu-lhe um poema. Ele leu cada verso como uma conversa íntima com seu pai. Viu que as palavras entoam baladas e toadas. E não mais se sentiu só. Uma autora para fazer uma sala de visita ao luto, escreve para orar ou morar mais perto da solidão. O livro é uma forma de embalsamar o luto, trazê-lo para uma realidade menos angustiante. Mas a dor se faz ou burila por cada entonação, ou pausa da saudade. É o momento de escrever o livro que se faz fábula de certo lobo que será preparado para o cozimento e o alimento. O lobo é espírito e carne da angústia do luto. Só metonimicamente, ele sublima cada pedaço de ser em liberdade de criação. Não é isso que fez Magalí Etchebarne neste livro seu de 2023 traduzido agora para o português e lançado neste final de ano pela editora 7 letras. Poemas como certo teor para o divã onde a escuta parece ser do ouvinte e não do leitor, pois o cântico parece vir com doses maciças de melodias. Música para acalmar ou reanimar o sal da alma. Mãe da autora é uma constante presença metafísica, a embalar cada pedaço de verso. Cada ruminar ou degustar a ausência, sentida.
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