F.A. Seu narrador possui uma lucidez, para avaliar a própria vida, porém sofre de certa melancolia, não diria só pela solidão. Fale um pouco dele, de sua potencialidade criativa.
M.A.P.R. Meu narrador é um Dom Casmurro, um homem solitário que, pela incapacidade de viver, de gozar a vida, reflete sobre ela, olhando com amargura e ressentimento aqueles que têm joie de vivre. Seu único prazer é a leitura. Ele também vê o mundo contemporâneo com desconfiança: sente-se excluído da jovialidade, da superficialidade, da “vulgaridade” contemporânea. Por isso, observa o critica o mundo, quase como um “escorpião encalacrado”.
F.A. A amargura parece um fel doce onde o personagem gosta de se melar. Desta amargura ele retira certa ironia, sarcasmos, com tiradas bastante espirituosas. Me fale um pouco deste humor amargo do narrador-personagem.
M.A.P.R. O humor amargo é um recurso do personagem para suportar a própria vida. Para aliviar o peso da existência e não se matar, algo que está sempre cogitando.
F.A. Muitos associam livros à solidão, a inadaptação ao mundo real. Sublimar o fantasioso onde o escape vem pelas palavras, estas bailarinas exemplares da beleza e da estética. Comente.
M.A.P.R. Sim, a leitura é uma experiência solitária. Para realmente compreender o mundo, é necessário se retirar dele por algum tempo. A leitura oferece esta possibilidade: o leitor retira-se momentaneamente do presente sensório-motor no qual vive e refugia-se no tempo-espaço do livro. Quando retorna ao presente, já é outro, mais rico e mais capacitado a compreender a vida.
F.A. A psicanálise fala de certo narcisismo doentio que barra o homem ao acesso ao mundo real e a comunicação entre os afetos humanos. Seu personagem se trata de um narcisista. Fale disso.
M.A.P.R. Meu personagem é um “narcisista obrigatório”. Ele vive sozinho, não cultiva relações sociais nem amorosas. Ele só tem a ele mesmo como referência, só resta ele mesmo com objeto de amor; ama a si mesmo desmesuradamente porque desconhece outros objetos amorosos.
CURRICULUM VITAE RESUMIDO
Obras Publicadas
– Vagas Obscenidades, Fundação Cultural do Estado da Bahia (poesia).
– A Faculdade de Medicina da Bahia na Visão de seus Memorialistas (1854-1924), Edufba; 1ª edição, 1997; 2ª edição, 2015 (historiografia).
– Todas as Coisas São Iguais, Editora Letras da Bahia, 2002 (romance).
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