Fernando Andrade entrevista o escritor Marcos A. P. Ribeiro

Marcos Ribeiro - Fernando Andrade entrevista o escritor Marcos A. P. Ribeiro
 
 
 
 

F.A. Seu narrador possui uma lucidez, para avaliar a própria vida, porém sofre de certa melancolia, não diria só pela solidão. Fale um pouco dele, de sua potencialidade criativa.

M.A.P.R. Meu narrador é um Dom Casmurro, um homem solitário que, pela incapacidade de viver, de gozar a vida, reflete sobre ela, olhando com amargura e ressentimento aqueles que têm joie de vivre. Seu único prazer é a leitura.  Ele também vê o mundo contemporâneo com desconfiança: sente-se excluído da jovialidade, da superficialidade, da “vulgaridade” contemporânea. Por isso, observa o critica o mundo, quase como um “escorpião encalacrado”.

F.A.  A amargura parece um fel doce onde o personagem gosta de se melar. Desta amargura ele retira certa ironia, sarcasmos, com tiradas bastante espirituosas. Me fale um pouco deste humor amargo do narrador-personagem.

M.A.P.R. O humor amargo é um recurso do personagem para suportar a própria vida. Para aliviar o peso da existência e não se matar, algo que está sempre cogitando.

F.A. Muitos associam livros à solidão, a inadaptação ao mundo real. Sublimar o fantasioso onde o escape vem pelas palavras, estas bailarinas exemplares da beleza e da estética. Comente.

M.A.P.R. Sim, a leitura é uma experiência solitária. Para realmente compreender o mundo, é necessário se retirar dele por algum tempo. A leitura oferece esta possibilidade: o leitor retira-se momentaneamente do presente sensório-motor no qual vive e refugia-se no tempo-espaço do livro. Quando retorna ao presente, já é outro, mais rico e mais capacitado a compreender a vida. 

F.A. A psicanálise fala de certo narcisismo doentio que barra o homem ao acesso ao mundo real e a comunicação entre os afetos humanos. Seu personagem se trata de um narcisista. Fale disso. 

M.A.P.R. Meu personagem é um “narcisista obrigatório”. Ele vive sozinho, não cultiva relações sociais nem amorosas. Ele só tem a ele mesmo como referência, só resta ele mesmo com objeto de amor; ama a si mesmo desmesuradamente porque desconhece outros objetos amorosos.

CURRICULUM VITAE RESUMIDO
Obras Publicadas
– Vagas Obscenidades, Fundação Cultural do Estado da Bahia (poesia).
– A Faculdade de Medicina da Bahia na Visão de seus Memorialistas (1854-1924), Edufba; 1ª edição, 1997; 2ª edição, 2015 (historiografia).
– Todas as Coisas São Iguais, Editora Letras da Bahia, 2002 (romance).

Please follow and like us:
Be the first to comment

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial